Outro dia

Título: Outro dia

Autor: David Levithan

Editora: Galera (cortesia)

Páginas: 322

Edição: 1

Lançamento: 2016

Sinopse: Um dos mais inovadores autores de livros jovem adulto e o primeiro a emplacar uma trama gay na lista do New York Times, David Levithan retoma a sua mais emblemática trama em "Outro Dia". Aqui, a já celebrada — com várias resenhas elogiosas — história de "Todo Dia" é mostrada sob o ponto de vista de Rhiannon. A jovem, presa em um relacionamento abusivo, conhece A, por quem se apaixona. Só que A, acorda todo dia em um corpo diferente. Não importa o lugar, o gênero ou a personalidade, A precisa se adaptar ao novo corpo, mesmo que só por um dia. Mas embarcar nessa paixão também traz desafios para Rhiannon. Todos eles mostrados aqui.

Resenha (Todo dia)

Quando descobriu o que A era, Rhiannon achou que aquilo fosse uma piada. Ou uma brincadeira de mal gosto. Como assim ele acordava cada dia num corpo diferente? E como, de todos os dias em que namorou Justin, o que mais lhe trazia boas memórias fora justamente aquele em que A estava dentro de seu namorado? E o que aquilo significava?

Ele parece muito feliz. Isso me faz perceber como é raro vê-lo feliz, esse tipo de “feliz” no qual não há mais nada passando pela cabeça dele além da felicidade. Ele costuma ter tanto medo de demonstrá-la, como se ela pudesse ser roubada a qualquer momento. – página 15

Em Todo dia, conhecemos a história de amor entre A e Rhiannon pelo ponto de vista de A, então tínhamos um foco bem pequeno sobre a vida de Rhiannon, sua rotina, como ela se sentia em casa, na escola, com A e etc. Mas aqui, sentamos na primeira fileira e ficamos a par de cada sentimento e cada pensamento da adolescente que foi a escolhida, quem fez A se sentir amado pela primeira vez na vida, e quem, espero eu, o ajude a ser “normal”.

Se A vai ser a única coisa verdadeira na minha vida, tenho que mantê-la verdadeira...mesmo enquanto me pergunto se posso tornar isso real. – página 268

Tirando as partes em que Rhiannon e A estão juntos, o livro é diferente do primeiro. Aqui nós acompanhamos o dia-a-dia da protagonista, vemos o quanto ela se sente deslocada na escola, sempre se preocupando com Justin (como ele está, como vai reagir, o que dizer perto dele para não irritá-lo), e observando os outros, e também como é em casa. Ela não se dá muito bem com os pais, e a única pessoa que parece “segurá-la” no mundo é Justin, por mais que ele a trate MUITO mal e aparente apenas suportá-la. Mas isso tudo muda quando ela conhece A.

Não tinha intenção de fazer isso. Não tinha intenção de me apaixonar por você. Mas aconteceu. E não posso apagar. Não posso ignorar. Tenho vivido a vida inteira assim, mas você é a única coisa que me faz desejar não ser mais assim. – página 80

À medida em que o conhece, cada dia em um corpo diferente, Rhiannon percebe que pode estar se apaixonando por A, e começa a ficar cada vez mais distante de Justin. Estando distante de Justin, ela percebe como ele suga sua vida, a afasta dos amigos e a deixa pisando em ovos o tempo todo. Quando está com ele, Rhiannon pensa muito sobre o que vai falar, sabendo que não pode falar demais ou ele vai ficar entediado, ou irritado. Ela não percebe no começo, mas está presa num relacionamento super abusivo, e A a livra disso ao longo da história.

Já vimos esse acontecimento no primeiro livro, mas o que muda para o leitor é ver como Rhiannon se sente em relação a Justin e a A. Ela ama Justin, e sente que, se não estiver com ele, o garoto vai ficar perdido, então é a âncora que o impede de ir embora. Mas estando segurando-o o tempo todo, ela também fica presa, sem poder ir embora.

É aqui que acaba. É aqui que começa. Cada momento. Todo dia. É aqui que acaba. É aqui que começa. – página 314

Quando fica com A, porém, Rhiannon sente que pode ser ela mesma. Ela não precisa ficar pensando antes de falar, pode simplesmente falar! Pode contar o seu dia, pode falar dos pais, dos amigos e de assuntos bobos. Mas um relacionamento com A é difícil de manter, pois ele precisa sequestrar corpos todos os dias para vê-la, e isso, além de perigoso, é injusto. É injusto com A, que não tem um corpo próprio. É injusto com as pessoas cujos corpos ele rouba. E é injusto com Rhiannon, que o perde todos os dias.

Estou desaparecendo. Esse é o pensamento que me ocorre: estou desaparecendo. Como se nada do que eu diga ou faça importe. Minha vida se tornou tão minúscula que é completamente invisível. – página 69

Enfim, o livro é incrível, mas não chega aos pés do primeiro. Gostei bem mais de Todo dia, acho que por ele ser narrado pelo A, meu personagem favorito do livro todo, e por eu me irritar tanto com a Rhiannon em Outro dia. Suas ações e atitudes me tiraram do sério, sem contar que ela é um tanto dramática demais para o meu gosto, mas a gente perdoa, né? E o final, novamente, me arrancou o coração. Maldade, viu Sr. David Levithan! O livro acaba no mesmo ponto que o primeiro, e eu estou doida (mais do que doida!) para saber o que vai acontecer a seguir.