Hoje trago a resenha de um livro que estava torcendo para ser reeditado - O Som e a Fúria de William Faulkner.
Autor: William Faulkner
Páginas: 376
Editora: Companhia das Letras (cortesia)
Lançamento: 2017
Sinopse: O som e a fúria, de 1929, é considerada a obra mais importante do escritor norte-americano ganhador do prêmio Nobel de Literatura em 1949. O romance surgiu em um período de isolamento, depois que o autor teve seu terceiro romance recusado por diversas editoras. Abalado, William Faulkner investiu num estilo ousado, tecido por quatro vozes narrativas distintas e saltos inesperados no tempo. É dessa forma, permeada por tons bíblicos e ecos de tragédias gregas, que o escritor retrata a violenta decadência dos Compson, família aristocrática do sul dos Estados Unidos, que parece viver num desnorteante presente em estado bruto. Com tradução de Paulo Henriques Britto e uma análise crítica de Jean-Paul Sartre publicada em 1939, o clássico de Faulkner ganha nova e definitiva edição.
Resenha
O Som e A Fúria é um desafio literário. O que eu mais gosto dos desafios literários são as barreiras dentro da literatura que transpassamos, é incrível perambular por um campo completamente desconhecido, e no caso de O Som e A Fúria, talvez inóspito. Dividido em quatro partes, o livro será narrado por quatro pessoas diferentes, cada parte com sua peculiaridade; a primeira parte do livro é narrado por Benjy (um autista), a segunda é narrada por Quentin (irmão mais velho de Benjy), seguida por Jason (irmão de Quentin) narrando a terceira parte e a quarta parte do livro apresenta um ponto de vista amplo, quase sem distinção de pessoa.
A estória foca nos Compson, uma tradicional família aristocrática americana em declínio, essas características começam a nascer a partir da narrativa de Benjy, filho autista dos Compsons. A deficiência de Benjy atinge o modo como sua parte no livro é narrada - repetitiva, fragmentada e não-linear. A fala de linearidade é característica em quase todas as partes do livro, porém apareceu-me mais completa na parte narrada por Benjy.
Dou-lhe este relógio não para que você se lembre do tempo, mas para que você possa esquecê-lo por um momento de vez em quando e não gaste todo seu fôlego tentando conquistá-lo
Em contrapartida, Quentin, irmão de Benjy, é o filho "inteligente'' da família, o leitor percebe uma certa mudança na parte narrada por Quentin - a multiplicidade e diversidade do texto são características que mais me encantaram. Quentin, em certo ponto da sua vida, mantém-se preso ao ideais "conservadores'' do amor, principalmente em relação a Caddy; sua donzela.
A luta entre ideais e gerações é um marco na narrativa de Faulkner, cada momento consegue tornar-se imprevisível, mas também meticulosamente ensaiado pelo autor, que parece conseguir deixar cada personagem e traço mais ricos. Inspirado por James Joyce (autor que preciso urgentemente ler), o ganhador do prêmio Nobel não deve ser lembrado por sua aventura em um fluxo de consciência, mas por sua força e destituição de qualquer meio comum - sempre tão bem-vindo na literatura.
Porque jamais se ganha batalha alguma, ele disse. Nenhuma batalha sequer é lutada.
Com tantos clássicos americanos excelentes com o fundo da Guerra Civil Americana, acredito que este seja o mais inovador, talvez por parecer carregar todos os anseios de uma família ''tradicional'' em crise, representando os Compsons. Com certeza não é uma leitura para acharmos um ponto confortável, é uma leitura de certo arrebatamento, dúvida e existência.
Reeditado pela Companhia das Letras, O Som e A Fúria já havia sido publicado pela Cosac Naify. A nova edição conta com tradução de Paulo Henriques Britto (de quem sou admirador) e posfácio de Sartre. Assim como tudo publicado pela editora, é uma belíssima edição.
Recomendo a leitura de O Som e A Fúria para os leitores de Virginia Woolf e William Kennedy, vocês vão se identificar. O Som e A Fúria é digno de ser carregado gerações a sua frente, é um texto inovador, forte e também doloroso - e isso é magnífico.
Esta e a primeira vez que eu me deparo com a resenha deste livro, e por isto me surpreende com seu conteúdo, e premissa da obra. Claro, que me interessei pela leitura, já que se trata de um texto inovador, mas ao mesmo tempo forte e doloroso, mais um livro para a minha lista de desejados.
ResponderExcluirOii
ResponderExcluirNão me senti interessada pela leitura. Não gosto de histórias confusas e o fato desta ter 3 narradores e uma forma não linear de pensamento já me assusta. Concordo com você que os desafios literários nos fazem explorar campos que nunca pensamos em ir, mas, no momento prefiro ficar na zona de conforto.
Vícios e Literatura
Oiii,confesso que não conhecia a obra, mas sua resenha me deixou curiosa... Com certeza vou pesquisar mais sobre ele... Tenho um certo receio de histórias com muitos narradores, mas ao mesmo tempo acredito que devemos nos desafiar sempre e ler coisas fora da nossa zona de conforto!
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