Devaneio



Título: Devaneio
Autor: Augusto de Brito
Páginas: 470
Edição: 1
Lançamento: 2016
Sinopse: Não se sabe como ou em que circunstâncias aquele homem havia chegado até a praia, as roupas molhadas sugeriam que ele poderia ter vindo do mar. Atordoado ele despertou confuso. Não sabia quem era, de onde vinha, nem porque estava ali, só tinha uma certeza, uma missão, algo que o chamava fortemente e que guiaria seu caminho em busca de respostas. Em busca de clareza. Munido apenas de três fotos em seu bolso, e sem saber que o mundo em que despertara estava sendo tomado pela escuridão e terror, criados por uma entidade sombria, será ele capaz de encontrar as respostas que procura? E qual seria sua ligação com essa entidade e a destruição que ela vinha causando?
Uma narrativa não linear, que flui sutilmente através da visão e lembranças de diferentes personagens, permitindo ao leitor compreender os diferentes processos de formação de cada um, sendo impossível não se apegar aos diferentes núcleos da história. Devaneio possui um enredo de ação, alimentado por criaturas fantásticas, malignas e humanas, que interagem em relações que vão muito além do “bem contra o mal”, passando pelas esferas, conceitos e questionamentos que envolvem a imaginação, fé, crenças e religião.

Resenha (pode conter spoilers)

Obs.: Se quiserem ouvir música, indico [Aeromoças e Tenistas Russas - Lovejoy].

Desculpem, não consigo fazer resenha pequena...

Capa maravilhosa (mas juro que o imaginei, - o Errante, Pesadelo ou como vocês quiserem chamar depois de ler o livro, - de outro jeito).

A viagem foi tão deliciosa que fica difícil dizer como realmente me senti ou fazer uma resenha que lhes agrade e seja compreensível...

“Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundos, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força consegue destruir” p. 356.

E para mim será eterno a ideia que esse livro traz, tanto filosoficamente nos diálogos de personagens “reais” (parece estranho isso, mas se vocês lerem vão entender), como nos tantos outros que são cativantes mesmo sendo fictícios. Acho que resenhar esse livro é como contar algo que se sonha pensando que se vive de fato...

Enfim, vamos aos fatos.

Liz Amarante, uma enfermeira dedicada a todos que precisem de sua ajuda acidentalmente dá um choque na cara de Neva, um homem que acordou sem memórias na areia da praia em Furnas, então se preocupa com a gravidade do ferimento causado pela cabeça do mesmo que se estabacou numa lixeira, sai correndo pedindo ajuda ao seu amigo mecânico Vart (Valter Onofre Augusto, não falem pra ele que escrevi o nome todo, ele pode me esmagar com seu braço enorme), que leva Neva desmaiado para a casa de Liz, assim começa uma das historias mais loucas que já li (louca, divertida, triste e emocionante).

Do outro lado de uma cidade a criatura se forma através de um pequeno tornado negro, tomava a forma humanoide e contemplava a casa que tinha “nascido”, andou até aquele local escuro, o porão, que lhe trazia um prazer tanto na sensação da escuridão como das lembranças de dor e sofrimento que se faziam presentes naquele lugar. - Assim um vilão se faz, e te deixa com aquela sensação de que nunca conseguirá imaginar como ele é de fato, igual as descrições que H.P Lovecraft faz dos seus anciões, quase como um filho de inomináveis, e o medo percorre sua espinha. Esse novo mal ganha um nome, o Errante, Sombrio, Pesadelo. Escolha qual mais o apavora e o mentalize. –

General Adamas ordena que seus caças atirem tudo que tem naquela nova força, várias partes do Errante se dividem em gárgulas e canídeos e outros seres horríveis que atacam a cidade de Serra Braúna, e todas as outras que ficam em seu caminho na busca de mais e mais sofrimento, dor e medo.

Enquanto tantas coisas difíceis acontecem nessa cidade em outra não muito longe dali está Clara e sua mãe Ilana, a primeira ligada á aparelhos que monitoram seus batimentos cardíacos, soro em uma das mãos, e vendo a tv que está no mudo enquanto escuta suas músicas no Mp3, a outra conversando e sendo convencida pelo Dr. Aires a ir para a casa descansar e dormir, já que sua filha estava bem; mal sabiam que estavam mais que ligadas aos eventos daquela cidade em caos.

E se eu vos dissesse que não poderia explicar quem veio primeiro (não é a duvida cruel do ovo e da galinha, mas outra, de proporções maiores e mais inexplicáveis), os sonhos ou aqueles que os sonham...

“Acho que surgiram simultaneamente, o sonho, e a capacidade de sonhar” p.205.

E é aqui que a magia, ou a realidade se os conforta melhor existe. Viajamos para O Mundo dos Sonhos, Neva e Liz vão até esse mundo paralelo e ao mesmo tempo perpendicular ao nosso “real”, encontram-se com aquele que não deve ser nomeado em vão * ATENÇÃO ALERTA DE SPOILER* (não caros leitores, não estamos falando do Lorde das Trevas), estamos falando de Deus (esse mesmo com D maiúsculo e tudo), além de vários outros deuses incríveis. – aquela hora que você queria muito ser um desses personagens, sem suas responsabilidades claro, só pra poder bater um papo esclarecedor, ou não, com Deus. - * ATENÇÃO ALERTA DE SPOILER*

A aventura se segue com tantos outros personagens, locais, explicações fascinantes de como tudo funciona nesse mundo, e você acompanha cada uma delas com uma vontade de saber mais e mais. Não poderia lhes explicar em palavras o que cada uma dessas explanações me revelaram porque não saberia por onde começar, além de todos esses diálogos sensacionais, os embates entre o “bem” e o “mau” são detalhados tão perfeitamente que me parece poder ver ao vivo, ou se for possível em sonho também. E como eu queria ver essas lutas numa telona de cinema, seria tão mais incrível que ver robôs se transformarem em caros e vice-versa (nada contra com quem gosta disso).

O livro é incrível, a escrita é fluida, só em algumas partes parece que meu sofrimento me matava por antecipação e nada parecia andar, talvez assim como no tempo entre os planos, o meu fosse tão lento que a leitura se tornava infinita.

“Se sofrimento e sublime fossem coisas capazes de serem concordantes, era exatamente isso que estava acontecendo. Era como ser destruído em paz.” p. 275.

Indico muito esse livro, se você está em busca de uma aventura, uma história que te prenda até o último segundo, e além de ser um autor brasileiro ele fez a incrível, a esplendida, - a incomparável, a sofisticada, a tudo que vocês puderem imagina de legal - ideia de colocar uma trilha sonora no decorrer do livro (confesso que colocava todas as músicas para escutar quando apareciam as indicações, foi uma das experiências mais legais que tive. Tá aí mais um dos motivos de sugerir músicas pra vocês escutarem enquanto leem).

E depois de ler fiquei com a sensação de que não podia mais sonhar, ou ao menos não sem pensar que consequências isso traria para minha realidade, ou a daqueles que me cercam, mas como tudo é inerente à vontade do ser humano fico aqui sem saber se quando escrevo sonho, ou sonho enquanto escrevo.

“O mundo é muito maior do que eu pensava. Eu achava que andávamos por caminhos, mas parece que não há caminhos. O próprio ato de andar é o caminho.” C.S Lewis, Perelandra.


Carol Castro







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