Hoje trago a resenha de um livro que me surpreendeu demais, seja pela sua geografia ou por sua boa prosa. Segue a resenha de Galveias.
Autor: José Luís Peixoto
Edição: 1
Lançamento: 2015
Páginas: 270
Editora: Companhia das Letras (cortesia)
Sinopse: Pequena aldeia no Alentejo, interior de Portugal, Galveias é onde nasceu José Luís Peixoto. A partir de suas memórias de infância, o autor constrói neste romance o universo de um lugarejo quase parado no tempo, que subitamente se vê diante de um imenso mistério. Com grandes histórias e um elenco de personagens admiráveis, ele traça um retrato da vida rural portuguesa no início dos anos 1980, que vivia então um embate entre a tradição e a inevitável chegada da modernidade, em um momento economicamente difícil para o país. Um livro essencial para compreender a identidade lusitana no mundo contemporâneo.
Resenha
Galveias, uma pequena cidade do Alentejo, região de Portugal, conhecida por sua ruralidade e grande identidade cultural, parou no tempo. Em uma noite de frio, um objeto que cai do céu acorda a cidade alentejana de certa forma, seja pelo estrondo que chegou a quebrar algumas janelas ou pelo forte cheiro de enxofre que afetou até o gosto dos pães.
Esse objeto estranho, que foi o mecanismo usado pelo autor para despertar o leitor, não é nominado durante o livro. Galveias, também nome da obra, será divido em duas partes; acontecimentos que cercam a queda desse objeto e também capítulos retomando a vida dos personagens.
No espaço, numa solidão de milhares de quilômetros onde parecia sempre noite, a coisa sem nome deslocava-se a uma velocidade impossível.
A identidade cultural do Alentejo e seus personagens encantam. Seja o carteiro que lê todas as cartas da cidade ou Isabela, a padeira brasileira apaixonada por pães. Os galvanenses (gentílico) trazem certa poesia ao livro, uma melancolia causada pelo mapa da história.
Cada capítulo do romance português vai tratar de algum personagem específico da história, seja a história do único doutor da cidade ou também o desenrolar de uma briga fatal entre dois irmãos. Galveias é um romance geográfico, todas as história acabam se conectando como uma mapa.
Galveias tem uma escrita doce e moderada, trata a ruralidade com um aspecto um tanto poético, criando uma prosa que lembra um pouco Saramago e o Mia Couto em sua estrutura. O isolamento que a região do Alentejo sofre do resto de Portugal, por causa da sua localização, é justificado através do objeto que caiu do céu, sendo um mecanismo para alinhar as histórias.
Rodeada por campos negros, pelo mundo, Galveias agarrava-se á terra.
José Luís Peixoto, autor do romance e nascido na cidade de Galveias, é dotado de um dom que poucos escritores tem; ele consegue retomar sensações e lembranças das quais você não se lembra de ter presenciado ou sentido. Os portugueses, como o próprio José Luis, tem esse domínio de prosa que é encantador.
Os seus olhos continham aqueles campos. Crescera com eles, mas nunca se acostumara ao ponto de não os ver.
A Companhia das Letras fez um trabalho incrível com Galveias, eles mantiveram o texto original e alteraram a capa (para melhor). A editora já publicou outros dois livros do autor, são eles Livro e Coréia do Norte: O Segredo.
Recomendo Galveias para aqueles, que como eu, têm uma certa identidade lusitana dentro si e também para aqueles que gostam dos livros do Mia Couto. Galveias é um romance geográfico, e Peixoto tem o poder de isolar o leitor dentro de uma identidade lusitana tão poética quando o livro em si.
Oi, Heitor!
ResponderExcluirNão conhecia o livro, mas interessante sua proposta. Um objeto que cai do céu e de repente altera um pouco a vida dos moradores locais, cada qual com um capítulo dedicado só à ele e com interligação entre todos? Genial mesmo! Todavia, infelizmente não é uma leitura que me atraia de todo, muito bom saber do seu lado poética, mas essas narrativas em geral não fazem muito o meu estilo, não consigo me envolver muito com elas. Mas se algum dia decidir experimentar algo das terras lusitanas, pensarei com carinho nessa indicação. Parabéns pela ótima resenha!
Beijos!
♥ Sâmmy ♥
♥ SammySacional.blogspot.com.br ♥
Oi Heitor, se minha memória não falha nunca li nada de nenhum autor Português, uma falha que pretendo consertar assim que possível. Contudo Galveias não é um livro que me chame atenção, não leria por agora pelo menos. Sinto que deve ser um daqueles livros que o leitor precisa ter certa paciência para terminar e eu não ando me dando muito bem com livros assim. Mas irei anotar aqui e quando precisar de algo como o que vc disse irei ler
ResponderExcluirEu não tenho uma identidade lusitana, porém apreciei o enredo e sempre gosto de conhecer a cultura de outros países, aprecio esse tipo de narrativa que quando a gente lê, tem uma sensação nostálgica, ao menos, a ideia do enredo me despertou isso.
ResponderExcluirFiquei aqui pensando em quão poetico o livro deve ser para ter inspirado uma resenha tão linda como a sua. Não conhecia a obra e nem o autor, mas fui transportada para esse mundo pela suas palavras, ficando com a sensação de que é o livro ideal para o momento em que estou - em busca de novos autores, novas histórias e com isso sair do comum em minhas leituras...
ResponderExcluirAdorei suas palavras e fiquei querendo muito o livro!
Beijinhos,
Lica
Eu nunca li este tipo de romance, achei interessante a proposta, e fiquei curiosa para entender melhor a situação todo que ocorre na cidade. Gostei de a obra apresentar mais de um personagem tão profundamente assim. Nunca li nenhum dos autores citados na resenha, então fico ainda mais curiosa para ler essa obra e a desses autores. Gostei demais da sua resenha!
ResponderExcluirbeijos
Olá!
ResponderExcluirFaz tempo que não leio nada de nenhum autor português, aliás, faz tempo que não tenho notícias de autores portugueses, preciso me atualizar... Mas, olha, adorei essa premissa, porque nos coloca dentro da cidade, como se o próprio livro fosse um mapa, como você disse... Essa capa é linda, já quero na minha lista!
Oi Heitor!
ResponderExcluirNão conhecia o livro, na verdade conheço menos da literatura portuguesa que eu gostaria.
A história parece boa até, mas não sei, não me passou uma identificação pra despertar a vontade de ler.
Beijo