Hoje trago a resenha de um clássico russo (que logo viraria um clássico mundial) que me encantou do início ao fim: Anna Kariênina do Tolstói.
Título: Anna Kariênina
Autor: Liev Tólstoi
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 808
Edição: 1
Lançamento: 2017
Sinopse: “Toda a diversidade, todo o encanto, toda a beleza da vida é feita de sombra e de luz”, escreve Liev Tolstói no romance que Fiódor Dostoiévski definiu como “impecável”. Publicado originalmente em forma de fascículos entre 1875 e 1877, antes de finalmente ganhar corpo de livro em 1877, Anna Kariênina continua a causar espanto. Como pode uma obra de arte se parecer tanto com a vida? Com absoluta maestria, Tolstói conduz o leitor por um salão repleto de música, perfumes, vestidos de renda, num ambiente de imagens vívidas e quase palpáveis que têm como pano de fundo a Rússia czarista. Nessa galeria de personagens excessivamente humanos, ninguém está inteiramente a salvo de julgamento: não há heróis, tampouco fracassados, e sim pessoas complexas, ambíguas, que não se restringem a fórmulas prontas. Religião, família, política e classe social são postas à prova no trágico percurso traçado por uma aristocrata casada que, ao se envolver em um caso extraconjugal, experimenta as virtudes e as agruras de um amor profundamente conflituoso, “feito de sombra e de luz”.
Resenha
''Poucas obras podem parecer-se tanto com a vida'' - essa é a frase que mais li quando pesquisava sobre Anna Kariênina, e sim, essa frase não deixa de ser verdade. O livrão escrito por Tolstói é um retrato poético, profundo e belo sobre as relações amorosas e os sentimentos humanos. Anna Karienina é uma dama conhecida na alta sociedade de São Petersburgo e Moscou, casada com Aleksei Aleksandrovitch, funcionário do alto-escalão russo, os dois aparentam ter um casamento perfeito. Oblónski, irmão de Anna, está com seu casamento destruído, Dolly - esposa de Oblónski - flagrou ele com a governanta.
Temia manchar aquilo que inundava sua alma.
Ainda na alta sociedade de Moscou, Kitty - irmã de Dolly - está sendo cortejada por dois cavalheiros: Liévin e Vrónski, a inocente princesa não consegue usar o coração e nem mesmo a mente para decidir seu futuro pretendente. Com todas essas cartas na mesa, jantares luxuosos e conversas que sonho poder ter presenciado, Tolstói entrega uma obra-prima - ponto.
Tem um caráter íntegro e quer que toda a vida seja formada de fenômenos íntegros, mas isso não acontece.
Os diálogos profundos - regados de caviar e profundas incitações filosóficas - são o ponto alto da fluída narrativa presente no livro. As diferenças entre cada personagem e família, suas discussões acerca do trabalho, política e amor parecem adentrar - quase mergulhar - a essência humana. Essa efervescência política presente na época em que o livro foi escrito (1875-1877) é registrada de forma detalhada e presente com força nas falas de Liévin - um de meus personagens prediletos da estória. A complexidade, dentro da gama de momentos e camadas dentro do livro, parece ser o maior atrativo para o leitor; em um cenário onde um plot-twist parece eminente, a lírica de absoluta beleza e melancolia de Tolstói vai conduzindo o leitor em passo lento. Parece estranho pensar que um livro escrito em 1877 possa compreender, de forma tão ampla, as angústias de uma geração tão distante como a de hoje.
Outra graça presente em uma narrativa tão dinâmica e ampla - já devo ter usado esse adjetivo várias vezes na resenha - é acompanhar de forma minuciosa cada espaço dentro do conjunto. Engana-se quem vê Anna Kariênina, com quase 900 páginas, uma leitura chata ou ''difícil'', resumindo, é uma obra que precisa de total e exclusiva interpretação (como quase todo livro) por parte do leitor.
Tudo isso afundara no mar do alegre trabalho em comum. Deus deu o dia, Deus deu a força.
Graças à tradução do russo feita pelo (incrível) Rubens Figueiredo, a leitura fluí como se fosse um livro escrito originalmente em português, talvez esse seja a ponto mais almejado por um tradutor. Relançado pela Companhia das Letras, o miolo dessa nova edição é o mesmo da anterior pela Cosac Naify, a diferença está na capa e nos posfácio pela Janet Macon. É uma bela edição, daquelas que desejamos destacar a qualquer custo na estante.
Talvez porque eu me regozijo com o que tenho e não me atormento com o que não tenho.
Recomendo Anna Kariênina para todos, é um must-read. De um jeito belo e extremamente poético, Tolstói consegue transportar o leitor para conversas que buscam respostas no fundo da essência humana de forma raramente vista na literatura, um clássico que não pode ser esquecido.
Olá!
ResponderExcluirEstou com esse livro na estante há um tempo, foi indicação de um amiga. Preciso muito ler e sua resenha só me deixou com mais vontade.
Tem adaptação também, acho que vou conferir.
Adorei sua resenha, beijos! ♥
Books & Impressions
Li esse livro em e-book durante uma viagem muito especial, e me encantei por ele. Você tem razão, os diálogos são realmente profundos, e a fluidez da narrativa surpreende, nem percebi que era um livro tão grande enquanto lia. E a essência humana pode ser sentida mesmo, o que é incrível. Quero uma edição física e acho que gostei dessa.
ResponderExcluirOi, Heitor
ResponderExcluirVou te confessar que é a primeira resenha que leio do livro e nem conhecia o clássico. Achei muito interessante a leitura e encarraria mesmo com suas 900 páginas. Isso por conta dos seus elogios e porque parece que realmente vale a pena.
Caramba 800 páginas me parecem assustadoras e pelo que entendi a narrativa é bem filosófica, então confesso que não seria o tipo de livro que eu pegaria para ler e se o fizesse seria praticamente um ano lendo. Mas só escuto elogios a essência dessa história e fico feliz que você tenha gostado tanto. Foi ótimo conferir suas impressões.
ResponderExcluirLeituras, vida e paixões!!!
Olá Heitor, esse é o tipo de livro que tira o leitor da zona de conforto, e apesar das mais de 800 páginas fiquei surpresa pela narrativa ser dinâmica e de fácil entendimento, com certeza são pontos favoráveis para ler esse livro um dia. Bjks
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirJá ouvi falar da obra e sei que preciso fazer a leitura por todos esses pontos positivos que ressaltou na resenha. Porém, não consigo ter ânimo para iniciar a leitura rsrs
Adorei saber suas impressões e quem sabe seja o gás que faltava para que eu inicie a leitura. É muito bom saber que mesmo sendo uma leitura extensa, que ela não torna-se enfadonha ou cansativa.
LEITURA DESCONTROLADA