De olho no autor #33: C.A. Saltoris

Todo mundo conhece o livro contado pela Morte, mas já viram a história contada pelo Tempo? Hoje a entrevistada é a autora C.A. Saltoris, brasileira que está morando na Alemanha e que foi responsável por me deixar noites sem dormir, pensando em seus dois livros, ambos maravilhosos. Já resenhei os livros dela aqui no blog, se quiserem ver, é só clicar nos títulos abaixo da imagem :)


1. Como foi seu primeiro contato com a leitura? 
C.A.: Olha, eu acredito que tenha sido com “Onde tem Bruxa tem Fada” do Bartolomeu Campos Queirós. Eu me lembro que tive um exemplar por muitos anos. Foi um grande amor, acho que foi meu primeiro.

2. Quando você começou a escrever? 
C.A.: Eu tinha uns sete ou oito anos. Eu sempre tive dificuldade em assimilar acontecimentos, e como eu não gostava de falar sobre meus problemas com ninguém (coisa que não gosto até hoje), eu escrevia; por não gostar de diários, eu escrevia histórias fictícias, usando situações, que me incomodavam ou me preocupavam. 


3. Como foi criar mundos tão complexos? Tanto em Banshee quanto em AHEdHnE?
C.A.: Complicado. (Risos) “Banshee” é tão complicado, que eu ainda não vejo seu fim. Decidi, que eu tenho que esperar um tempo e deixar a história amadurecer mais para que eu possa concluí-la. Os dez anos em que trabalho nela não foram suficientes. Eu acho que foram os dez errados. Vejamos os dez daqui pra frente. A “História Esquecida da Hospedaria na Estrada” custou menos trabalho, mas não menos dor de cabeça. Eu costumo me entregar muito a uma história, eu pesquiso, observo pessoas, situações e sentimentos, escuto história verídicas, digiro, repenso, apago, reescrevo, brigo com meus personagens. Bem, é um processo lento, mas prazeroso; e eu gosto de complexidade. (Acho que isso ficou claro nessa resposta. Risos) 


4. Você se divertiu enquanto escrevia os livros? Qual outro sentimento esteve presente enquanto criava os personagens e suas histórias?
C.A.: Sem sombra de dúvidas! Eu me divirto sempre. Escrever é, para mim, uma das melhores coisas da vida! “Banshee” foi mais divertido, no sentido de animação, porque há mais personagens engraçados e eu adoro rir. Em “A História Esquecida da Hospedaria na Estrada” eu briguei muito com o meu narrador. As pessoas torcem o nariz quando eu falo essas coisas, mas é verdade. Chronos tem uma personalidade forte e eu não consegui mudar coisas, que ele considerava corretas. Foi uma guerra. Hoje ele é um dos meus grandes amores e me faz muita falta. Entre tapas e beijos. (Risos) No geral, eu me envolvo emocionalmente de maneira muito profunda no e com o que eu escrevo, porque eu escrevo coisas nas quais eu acredito, que eu defendo ou critico. São minhas ideias, meus valores, minhas observações, minhas angústias, neuras e amores. Tudo o que acontece nos meus livros, com todas as minhas personagens, mexe muito comigo. Sempre. Ou seja, eu sofro. 


5. Quando li AHEdHnE fiquei bastante curiosa para saber de onde veio a ideia de colocar um Deus como narrador, no caso, Chronos. Poderia nos contar um pouco sobre isso?
C.A.: Chronos é um intrometido! A ideia central era deixar Mathew contar a história, mas eu sentia que o livro perderia muito se eu tivesse uma narrativa em primeira pessoa, uma primeira pessoa mortal ainda por cima! Foi quando eu decidi que eu precisava de um outro narrador, mais neutro e onipresente. Na época eu estava lendo “Conto de Inverno” de Shakespeare. Em uma determinada cena o tempo, em pessoa, para os acontecimentos para dizer que passou. Naquele momento, eu soube que o meu narrador deveria ser o tempo. Eu pensei então, que dar um nome a ele seria mais interessante, foi assim que eu fui caçar nas mitologias deste mundo e Chronos se meteu na história. 


6. Quanto tempo levou para escrever seus livros?
C.A.: Depende da história, no geral de um ano e meio à três anos. A saga de Banshee está levando ainda; como eu disse, já são dez anos e minha intuição me diz, que eu preciso de mais tempo. “A História Esquecida da Hospedaria na Estada” existe ainda há mais tempo na minha cabeça, mas eu o escrevi em um ano e meio. 


7. Quais são as dificuldades para que um autor consiga ter seu livro publicado e conhecido no mercado literário brasileiro? 
C.A.: Olha, eu acho que hoje em dia, publicar é o de menos. Há tantas possibilidades, que eu fico até tonta. Difícil mesmo é ser reconhecido. Ainda não sei como se faz, quando eu descobrir, eu volto aqui e a gente edita o post. 

8. Para você, qual a melhor coisa em escrever? 
C.A.: Mandar no destino. 

9. Sei que essa pode ser uma pergunta difícil, mas qual seu livro preferido? Pode ser um dos seus, ou de algum colega escritor...
C.A.: É, difícil mesmo, quase impossível! (Risos) Vamos, vamos lá, hoje eu vou citar “Morte e Vida Severina” de João Cabral de Melo Neto. Acho que é o livro que eu mais cito! O outro seria “O Pequeno Príncipe” de Saint-Exupéry. E mais uns cinco. 


10. Se fosse um personagem, qual seria? Por quê?
C.A.: No geral? Morgana le Fay. Coisa de pele. Morgana me fascina. 

11. Além de escrever, você também lê bastante?
C.A.: Sim. Sempre e de tudo. 

12. Qual livro nacional você recomenda? Por quê?
C.A.: “Senhora”. Porque Aurélia é uma personagem feminina que merece ser lida. Confesso que sempre gostei de José de Alencar e da força de algumas de suas mulheres. Lucia, Aurélia e Emília foram minhas heroínas, muito mais que Cinderella e co. Acho até que Linumê e Aurélia são muito parecidas, ainda que por acidente. 

13. Poderia nos contar um pouco dos seus livros?
C.A.: Sobre todos? Aí a gente não termina isso hoje! (Risos) Eu acho, que no todo foram uns sete romances, quatro peças de teatro e algumas – muitas – tentativas de poetizar. Eu escrevo desde muito cedo e sempre escrevi muito, mas para mim. Minhas histórias eram minhas e de mais ninguém. Das antigas, tirando a saga de “Banshee”, duas peças e – talvez – uns dois infantis, permanecerão todas minhas. 


14. Tem algum trabalho futuro chegando? Poderia nos falar um pouco dele ou é segredo?
C.A.: Sinceramente, eu não tinha intenção nenhuma de escrever mais nada, mas me encontro no meu “momento Raul Seixas” e mudei de ideia. Há cinco projetos, nos quais eu gostaria de trabalhar. Um deles, o mais novo (filho caçula é sempre um perigo!) decidiu que chegou o seu momento, e eu permiti. Não posso dizer muita coisa, porque nem eu sei! Eu só sei que ele começa dentro no metrô de Berlim, sei que o narrador é mulher, sei que terá momentos sombrios e sei que é sobre amizade e uma doença incurável. Bem, eu sei o título também, mas esse é segredo. 


 *   *   *   *

3 comentários

  1. Olha eu tenho o segundo livro postado.
    Eu ainda não li, mas estou com bastante curiosidade de saber mais sobre a história.
    Espero poder ler a resenha de vocês aqui.
    Mas olha, eu ainda não conhecia a autora direito, mas gostei bastante da entrevista que fizeram ,porque só assim mesmo para conhecer. Eu só falei com ela por email uma vez. Enfim...Adorei as perguntas e as respostas. Muito sucesso para autora nessa caminhada.

    http://lovereadmybooks.blogspot.com.br/2015/05/resenha-feita-de-letra-e-musica.html

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  2. Adoro entrevistas com autores ;) Ficou ótima a postagem.
    Bjs
    http://eternamente-princesa.blogspot.com.br/

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  3. Oi, Dryh!
    Ainda não conhecia esse livro. Mas fiquei curiosa por se tratar de uma história narrada pelo tempo.
    Adorei a entrevista. A autora é muito simpática.
    Beijos

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