Hoje eu trouxe a resenha de Vox, da Christina Dalcher, publicado recentemente pela editora Arqueiro.
Autora:
Christina Dalcher
Tradução:
Alves Calado
Editora:
Arqueiro (cortesia)
Edição: 1
Páginas: 320
Lançamento:
2018
Sinopse: Uma distopia atual, próxima dos dias de hoje, sobre empoderamento e luta feminina. O SILÊNCIO PODE SER ENSURDECEDOR #100PALAVRAS. O governo decreta que as mulheres só podem falar 100 palavras por dia. A Dra. Jean McClellan está em negação. Ela não acredita que isso esteja acontecendo de verdade. Esse é só o começo... Em pouco tempo, as mulheres também são impedidas de trabalhar e os professores não ensinam mais as meninas a ler e escrever. Antes, cada pessoa falava em média 16 mil palavras por dia, mas agora as mulheres só têm 100 palavras para se fazer ouvir....mas não é o fim. Lutando por si mesma, sua filha e todas as mulheres silenciadas, Jean vai reivindicar sua voz.
Resenha
“A única coisa necessária para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada.” – página 304
A Dra. Jean McClellan se
lembra de como era o mundo antes, de quando era possível fazer passeatas e
manifestar, quando as mulheres iam para a faculdade, se formavam e começavam a
exercer sua profissão: ela mesma o fizera! Mas agora, cada mulher e menina dos Estados Unidos usa uma espécie de
pulseira que monitora suas palavras. Cada uma possui 100 palavras diárias. Passando disso, eletrocussão. Ela já vira
acontecer, e já fora uma vítima disso, então monitorava – assim como todo ser
humano do sexo feminino – suas palavras com muito cuidado.
A rotina seguia, até que o irmão do presidente sofreu um acidente e
teve um dano em uma parte do cérebro que era justamente aquela que Jean estudava, e precisaram de sua
ajuda. Ela quisera dizer não, quisera mandar todos para aquele lugar, mas como,
se podia exigir que tirassem o contador de sua filha, Sonia? Como, se a filha estava falando uma ou duas palavras por
dia, influenciada pela escola – que só ensinava como fazer tarefas domésticas
-, acreditando que aquilo era o certo? Jean
estava determinada a “arrumar” a filha, e a fazer grandes mudanças na sua
realidade, ela só não contava que as coisas estavam piores do que pareciam.
Pense no que precisa fazer para continuar livre. – página 21
A premissa desse livro me chamou MUITO a atenção, e mesmo morrendo de
medo de ler – comecei a lê-lo poucos dias após o resultado das eleições -,
queria muito saber o que Jean iria
fazer. Eu ainda não li e nem vi “O conto
da Aia”, mas imagino que a história seja bem parecida – senão mais assustadora
-, mas também acredito que o final seja melhor. Mas vamos em partes.
Jean era uma renomada
doutora que teve tudo arrancado de si: sua profissão, seus direitos como ser
humano e sua voz. Ela agora observava seu marido e seus filhos (homens) conversarem
abertamente à mesa, enquanto Sonia
ficava quieta, e o mesmo acontecia com si. Aguentava o filho mais velho
repetindo as baboseiras do Movimento
Puro – praticamente as mesmas coisas que vemos ou ouvimos vez ou outra,
também conhecidas como machismo supremo – e não sabia o que fazer. Quando
passou a trabalhar para o governo, ela imaginou que poderia fazer algo para
salvar pelo menos sua filha, tinha aliados (duas pessoas que haviam trabalhado
com ela antes), e tinha um plano.
“Há uma resistência?” “Querida, sempre há uma resistência.” – página 161
Infelizmente, preciso dizer que não me encantei nem torci por nenhuma
personagem, todos foram bem desenvolvidos e inseridos na história, mas não
consegui gostar nem de Jean, e
quando o livro começou a tomar outro rumo (eu estava imaginando alguma
revolução, mulheres lutando juntas e derrubando o governo), indo mais para o
lado científico e fictício da coisa, eu desanimei. O início do livro me deixou
fissurada, tensa, doida para saber o que iria acontecer depois, e mais doida
ainda para saber como tudo começou, mas acho que só consegui finalizar o livro
por causa da curiosidade de saber aonde a história iria parar.
O lado positivo é que a autora tem uma escrita leve e rápida, então
foi um pouco rápido até, finalizar o livro. Também não gostei do final, achei
as resoluções muito rápidas e um tanto forçadas, então diria que o livro foi
uma baita decepção: eu estava esperando uma história que me deixaria
eletrizada, doida por mais e fissurada em tudo, mas não encontrei nada disso.
Quem gosta de distopias que pendem bastante para o lado cientifico pode gostar,
mas quem, como eu, é mais fã de distopias em que as personagens lutam juntas
por uma revolução, pode ser que tenha as mesmas observações.
Olhei-a se dobrar, se curvar e desmoronar, sem palavras, com apenas o fiapo de um suspiro de dor, agudo e retesado, saindo dos lábios. Cinco de nós corremos para a mulher caída no chão de ladrilhos, mas fomos afastadas violentamente. As que se demoraram também receberam choques ou levaram coronhadas. Como animais desobedientes. Vacas. Cachorros. O que estou dizendo é que nada disso aconteceu sem luta. – página 86
Vi muitas chamadas deste livro, mas nem de longe conhecia sua premissa e confesso que agora que a conheço quero muito ler. Ainda que você tenha se desanimado com o rumo que a história tomou. Gosto de distopias e como esse é o primeiro livro da série pode ser que no próximo volume a autora traga explicações sobre o desfecho desse.
ResponderExcluirAbraços.
https://acabinedeleitura.blogspot.com
Olá!
ResponderExcluirEu li esse livro e gostei bastante. Achei necessários os temas retratados e me surpreendi com algumas atrocidades de quem está no poder é capaz de fazer, sem contar nos extremos do fanatismo.
Não consigo imaginar um mundo onde tenhamos que nos calar e a leitura veio em um momento que a sociedade está bem dividida, então foi um momento bem oportuno.
Beijos!
Camila de Moraes
Oi Dryh!
ResponderExcluirNão conheço esse livro, mas já gostei do enredo, eu adoro livros que vale a pena lutar por um ideal e pelo que li da sua resenha, Jean estava lutando não tanto pelos seus ideais e sim para conseguir uma vida melhor para sua filha, apesar de você não ter gostado,eu gostaria de dar uma chance a leitura.
Obrigado pela sua sinceridade, em falar da leitura, sua resenha ficou detalhada que fiquei com gostinho de quero mais kkk, valeu a dica.
Olá! É muito atual, acredito que seja forte, pesado, mas tão necessário que seja abordado. Sua resenha despertou ainda mais o interesse; também não li O conto da aia, mas agora fiquei curiosa. Parece ser um livro interessante difícil ler a resenha e não imaginar isso acontecendo de verdade. É de ficar horrorizada com essa possibilidade horrível de poder dizer só cem palavras. É absurdo! A leitura deve mexer com o leitor e o deixar refletindo sobre esses abusos contra as mulheres. Obrigada pela dica!
ResponderExcluirBjoxx ~ www.stalker-literaria.com ♥
Não foi a primeira vez que vi um resenha desse livro, mas eu adorei desde então, e acho muito legal como as resenhas se tornam tão diferente para um mesmo livro. Achei sua resenha sensacional.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirEu ainda não tinha lido nada sobre esse livro, só sabia que ele falava de opressão e coisas do tipo, uma pena ele ter no final das contas de decepcionado. Eu pretendo lê-lo em algum momento, além disso o conto da aia também está na minha lista de próximas leituras, acredito que pelos comentários que andei lendo, este último, realmente seja melhor.
Abraços!
Oii Dryh, tudo bem? Tenho visto bastante esse livro nas redes sociais esses dias, muita gente lendo e falando super bem. A premissa do livro também me chamou bastante a atenção, assim como aconteceu com você, e fiquei com vontade de ler. Mas, por também preferir livros com revolução de mulheres, que se unem para lutar, acho que iria ter as mesmas observações... então acho que é melhor diminuir um pouco as expectativas para essa leitura! Ótima resenha!
ResponderExcluirBeijoss
Essa é a primeira resenha deste livro que não tece elogios fervorosos para o enredo. Entendi seus argumentos e acho que a sua opinião está bem consistente, mas ainda assim, este é um livor que quero muito ler e acho que pra mim, vai funcionar.
ResponderExcluirValeu pela sinceridade.
Beijos
Olá, tudo bom?
ResponderExcluirEntão, eu fui do time que gostei muito desse livro rs Mas acho que por já ter lido 'O conto da aia', eu não criei as expectativas que você criou em relação aos personagens e a luta que ocorreria, então acho que acabei curtindo muito mais a leitura. Quanto ao final, esperava um pouco mais dele, mas também não achei de tudo ruim. Gostei muito da sua resenha! Adorei conhecer um ponto de vista de alguém que teve uma visão diferente da minha.
Beijos!
oi, tudo bem? a ideia do livro me pareceu bem legal, pois são é meio que uma situação atual, irei procurar mais sobre ele, livros assim me chama atenção, e parabéns pela escrita, você escreve de maneira leve e bem fluida.
ResponderExcluirabraços.