O Assassinato do Comendador

Olá a todos,

Hoje trago a resenha de um escritor bem conhecido, Haruki Murakami. Seu mais recente livro, O Assassinato do Comendador, será lançado ainda em Novembro.

Título: O Assassinato do Comendador
Autor: Haruki Murakami
Editora: Companhia das Letras (selo Alfaguara)
Ano: 2018
Páginas: 360
Sinopse: Em um tour de force sobre amor, solidão, guerra e arte, Haruki Murakami demonstra toda sua habilidade em construir mundos paralelos e personagens inesquecíveis. No meio de uma crise conjugal, que o marido nem sabia que estava acontecendo, um casal se separa. O marido abandona Tóquio e passa a viver em seu carro, viajando pelo Japão. Pintor de retratos reconhecido no meio, ele acaba por conseguir uma casa que pertenceu ao famoso Tomohiko Amada. A casa fica nas montanhas, e lá ele pode se dedicar à própria pintura. Nessa casa de paredes vazias, ele começa a ouvir ruídos estranhos e descobre um quadro inédito intitulado O assassinato do comendador. Ao tirá-lo de seu esconderijo, ele entra em um mundo estranho em que a ópera Don Giovanni de Mozart, a encomenda de um retrato, uma adolescente tímida e, claro, um comendador passarão a fazer parte de sua vida. O assassinato do comendador, primeiro romance longo de Murakami após 1Q84, é ao mesmo tempo uma aventura emocionante pelo mundo da pintura e uma busca por aquilo que nos torna únicos.




Resenha:

Haruki Murakami é, provavelmente, o mais notável e atual escritor de língua japonesa . Com seu jeito de escrever e construir cenas, além de personagens aliados à cenários intrigantes, conquistou uma legião de leitores, inclusive a (incrível) escritora estadunidense Patti Smith - provavelmente comecei a ler o autor por causa dela. Em O Assassinato do Comendador, Murakami parte à uma região montanhosa do Japão, onde nosso personagem principal, um retratista, se isolará após o fracasso de seu casamento. O personagem principal - sem nome durante o livro - e aparente narrador é um retratista conhecido por seu dom de trazer a tona características nunca vistas de seus clientes, seu modo de pintar não é enigmático ou 'transcendental', é apenas natural.

Após se separar de sua esposa, que revela que mantinha relações com outro homem, o retratista de Tokyo fica vagando, em seu carro, por montanhas e planícies do Japão, sem rumo algum ou plano na cabeça. Após ficar cerca de 3 meses dirigindo e parando em alguns termas, ele volta para o apartamento de sua ex-esposa e recebe uma oferta de um ex-amigo, da Faculdade de Belas Artes, para se hospedar na casa do pai, o famoso pintor Tomohiko Amada. O personagem aceita e se reclusa em uma casa de difícil acesso e, aparentemente, sem vizinhos.

Em certo sentido, o rosto é como a palma de uma mão: não nasce pronta, ele vai sendo construído aos poucos.

Amada ficou conhecido por pintar no estilo milenar japonês (Nihon-ga), porém, antes de migrar definitivamente para este estilo de pintura, passou pela clássica escola européia em Viena. O motivo da mudança radical, do estilo europeu de pintura para o Nihon-ga, é desconhecido até o narrador, hospedado na casa que pertenceu ao pintor, encontrar um quadro enigmático no sótão, o quadro do Assassinato do Comendador. Misterioso e cheio de detalhes, este quadro perdido no sótão e desconhecido pelo filho do pintor permanece como um quebra-cabeças, já que os detalhes do quadro parecem conversar demais com uma obra de ópera Don Giovanni, de Mozart. Se não bastasse o quadro para a estranheza do personagem, ele subitamente recebe o pedido de um retrato em um valor nunca antes oferecido, ainda mais estranho é descobrir que o cliente é seu vizinho. Quais seriam as ligações remanescentes entre tantos elementos?

Mais que uma conversa sobre o processo artístico, O Assassinato do Comendador é um livro de fôlego que acompanha vários ciclos e personagens, ainda mais enigmático é não ter conhecimento do nome do narrador e personagem principal do livro. A maneira como Murakami arquiteta e desenha seu livro é bem particular, os 'longos' títulos dos capítulos são uma maneira de engatar, automaticamente, o leitor ao que se precede nas linhas. O autor também demora, positivamente, ao descrever e extrair, substancialmente, a alma dos personagens apresentados. A cada página virada, o leitor sente medo do que Murakami pode arquitetar - e isso faz toda a diferença.

Havia nele algo instigante, algo que alcançava os recônditos do coração do observador e convidava a imaginação para locais distantes.

Diferente de outras experiências que tive com o autor, senti que O Assassinato do Comendador se apresenta despretensioso, porém conquista e trava o leitor lentamente. Ao ler, senti que estava em um page turner, mas com a experiência sensorial que apenas o autor entrega.

Traduzido do japonês por Rita Kohl, o lançamento da Companhia das Letras está previsto para 23 de Novembro, porém não duvido muito que até o final do mês os leitores terminem este livro e fiquem, como eu, ansiosos e atentos para mais do autor - uma continuação está prevista.

Recomendo O Assassinato do Comendador para quem já leu Cixin Liu e Philip K. Dick - são autores diferentes, porém podem conquistar o mesmo público. Com um jeito de escrever e moldar personagens bem particular, mas sem muito segredo, Murakami entrega um enredo que parece ultrapassar os limites de seu próprio território.

Nenhum comentário

Postar um comentário

Oiê! Muito obrigada por passar por aqui, deixe um recadinho com o link do seu blog e a gente dá uma passadinha lá mais tarde :)

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...