O garoto quase atropelado

Eu estava em dúvida sobre qual livro do Vinícius deveria ler primeiro: O garoto quase atropelado ou 1+1. Já tinha lido resenhas sobre ambos, e, pelo o que eu me lembro, todas falavam maravilhosamente bem das duas obras. Fiz então um uni-duni-tê mental e acabei escolhendo O garoto quase atropelado, mas, mesmo sabendo o que o livro fez com outros leitores (é arrebatador, tomem cuidado), ainda assim, não estava preparada para o que eu encontrei.

Título: O garoto quase atropelado

Autor: Vinicius Grossos

Editora: Faro Editorial

Páginas: 272

Edição: 1

Lançamento: 2015

Sinopse: Um garoto sofreu com um acontecimento terrível. Para não enlouquecer, ele começa a escrever um diário que o inspira a recomeçar, a fazer algo novo a cada dia.
O que não imaginou foi que agindo assim ele se abriria para conhecer pessoas muito diferentes: a cabelo de raposa, o James Dean não-tão-bonito e a menina de cabelo roxo, e que sua vida mudaria para sempre! Prepare-se para se sentir quase atropelado de uma forma intensa, seja pelas fortes emoções do primeiro amor, pelas alegrias de uma nova amizade ou pelas descobertas que só acontecem nos momentos-limite de nossas vidas. Estar vivo e viver são coisas absolutamente diferentes!

Resenha

A sensação que tenho é de que meu coração foi arrancado e, no lugar, restou um buraco negro, rodeado por vácuo e escuridão. – página 238

Nosso protagonista, cujo nome não nos é revelado, recentemente sofreu a perda de alguém muito querido por ele. Mergulhado numa profunda tristeza e depressão, ele escreve um diário contando como são os seus dias, como forma de desabafar e não enlouquecer. Até o dia em que quase é atropelado por uma menina linda com cabelos de raposa, e, a partir daí o protagonista começa a viver de verdade.

Conhecendo Laís (a cabelo de raposa), Acácio (o James Dean não tão bonito) e Natália (a menina de cabelo roxo), ele embarca em aventuras que nunca imaginou um dia viver, e acaba fazendo parte daquele grupo, tornando-se um deles. Não um quadrado da amizade, mas um triângulo com um pontinho no meio, sendo o pontinho a pessoa que une os outros.

Eu não sabia aonde estava indo com aqueles estranhos, mas estava feliz. Feliz mesmo. Pela primeira vez em muito tempo eu me sentia vivo. Sentia-me quase atropelado. – página 28

Eu sabia que ia gostar desse livro, mas não imaginei que fosse me apaixonar tanto pelos personagens e pela história em si. É impossível não sentir o que o protagonista está sentindo, toda a dor, a tristeza e a solidão, e também a alegria nos momentos em que sente-se quase atropelado ao lado dos novos amigos, e de sua nova paixão, Laís, aquela a quem ele acha tão especial, mas que não consegue ver isso em si mesma.

Não tinha felicidade em mim, nem vontade de fazer coisa alguma. Desliguei-me do mundo e acho que de mim mesmo. Optei por ficar escondido numa caverna de dor e solidão e estava satisfeito lá. Agora, embora ainda não tenha me reencontrado, sei, sem dúvida nenhuma, que estou no caminho certo para sair dessa caverna. – página 78

E por falar em especial, me doía ver a forma como o menino quase atropelado se via. Ele não enxergava a importância que tinha na vida dos outros, suas inseguranças em relação a tudo me faziam querer entrar no livro e abraça-lo, e toda vez que ele pensava no trauma que sofrera meses atrás, eu sentia a angustia que ele estava sentindo, a culpa, a tristeza. Além disso, os outros personagens também possuem os seus problemas, todos eles bem complexos e polêmicos, e é impossível não sentir afeição por eles também, mesmo que algumas ações suas tenham me irritado um bocado.

O garoto quase atropelado foi um dos melhores livros que eu já li na vida, e não só porque eu me apaixonei completamente pelos personagens e fui fisgada pela história já nas primeiras páginas. A escrita do Vinícius é incrível, é viciante, é emotiva, é reflexiva, e prende o leitor do início ao fim. Eu não conseguia parar de ler, e, quando precisava pausar a leitura, seja pelo motivo que fosse, ficava imaginando o que iria acontecer a seguir. E tinha aqueles momentos em que algo incrível ou tenso estava acontecendo, e eu fechava o livro por alguns segundos, assimilando, sorrindo ou chorando, e voltava a ler depois de respirar fundo. Sem contar as partes engraçadas ou apaixonantes que eu acabava lendo duas, três vezes, só para sentir aquela alegria ou aquele momento fofo mais uma vez.

Também gostei de ver que o autor conseguiu manter o mistério do que tinha ocorrido com o garoto até o momento certo, soltando algumas pistas aqui e ali, mas não revelando tudo até certa parte da história. E eu fiquei chocada, surpresa, e de coração partido. Aliás, não foi a única parte que me partiu o coração. Além de tudo, o garoto é apaixonado por livros e lê alguns clássicos ao longo da história, o que me fez gostar ainda mais dele. E o livro contém uma playlist maravilhosa que se encaixou perfeitamente nas cenas em que tocava.

Esse é um livro que eu recomendo para todos, até mesmo para quem não gosta de romances. Porque esse não é um livro só de romance, ou só de drama. É tudo junto e misturado, são todas as emoções que você consegue imaginar numa só obra, e são temas fortes e profundos abordados de forma magnifica, delicada, bonita. Eu estaria mentindo se dissesse que não odiei o autor algumas vezes, mas, quando fechei o livro, tudo o que eu queria era agradecê-lo por ter escrito algo tão belo e maravilhoso. Terminei de ler e me sentia quase atropelada, e, sabendo que era daquele jeito que deveria me sentir, sorri, satisfeita. O final foi perfeito, eu nunca conseguiria imaginar um desfecho tão próprio para o livro, mas fiquei feliz em ver que o Vinicius conseguiu (apesar de, mais uma vez, ter partido o meu coração).

  

Então, de repente, todo o mundo se olhou. Independente de segredos, de brigas, de mágoas, éramos só nos quatro naquele carro. Quatro corações, quatro almas sedentas por respostas da vida, dos porquês que nunca conseguiram responder. Quatro pessoas em busca do que as motivava a viver. – página 119