Título: Através do espelho
Autor: Jostein Gardner
Editora: Seguinte (cortesia)
Páginas: 144
Edição: 2
Lançamento: 2017
Sinopse: Do mesmo autor de O mundo de Sofia, essa é a história de Cecília Skotbu, uma menina que vive intensamente. As coisas que vai aprendendo ela anota num caderninho. Ali ela escreveu, por exemplo: "Nós enxergamos tudo num espelho, obscuramente. Às vezes conseguimos espiar através do espelho e ter uma visão de como são as coisas do outro lado. Se conseguíssemos polir mais esse espelho, veríamos muito mais coisas. Porém não enxergaríamos mais a nós mesmos". Cecília passa quase o tempo todo em seu quarto, deitada na cama. Ela está morrendo. Sua história é uma preparação para a morte e por isso é também um mergulho na vida. Ela morre como quem viaja, prestando atenção em tudo. Através de seu olhar profundo, o outro lado do espelho se torna um pouco mais claro para nós.
Resenha
É Natal, mas Cecília não pode ajudar nos preparativos, ou brincar na neve, nem mesmo ajudar a enfeitar a árvore de Natal. Ela está muito doente, e passa os dias na cama. Mas Cecília consegue sentir e cheirar o Natal, às vezes, ela consegue até mesmo vê-lo quando ouve sua família jantando na cozinha e a avó tocando piano, e consegue imaginar a cena toda. Ela está ansiosa para abrir os presentes, e o tempo todo escreve em seu caderninho – uma espécie de diário – o que está sentindo e/ou pensando.
Numa noite, Cecília se depara com a presença de Ariel, que diz ser um anjo. De início ela duvida que ele realmente seja um anjo, mas ao longo do tempo, eles começam a trocar pensamentos e curiosidades: ele sobre o mundo dos anjos, e ela, sobre os humanos. Falam sobre os sentimentos e sensações humanos, como ouvir, ver, cheirar, tocar, e também falam sobre a morte. O que acontece quando alguém morre?
Quando eu morrer, o fio de prata de um colar de pérolas vai se arrebentar, e todas as pérolas, lisinhas e acetinadas, vão rolar pela terra e correr de volta para a casa delas, para suas mães-ostras lá no fundo do mar. Quem vai mergulhar e apanhar minhas pérolas depois que eu tiver ido embora? Quem vai saber que elas eram minhas? Quem vai adivinhar que antigamente, há muito temo, o mundo inteiro pendia em torno do meu pescoço? – página 84
Eu ainda não havia lido nada do autor, mas me surpreendi com sua escrita leve e rápida: o livro mais parece um conto de tão curto, e mesmo que já saibamos o que vai acontecer no final (Cecília vai piorando a cada dia), ainda assim nos emocionamos com a maneira como tudo se acaba. Gostei muito das reflexões trazidas na história, tanto a respeito da existência humana quanto de coisas mais simples, como o que sentimos quando tocamos em algo gelado, ou qual o sabor de uma fruta? Melhor ainda: como explicar o sabor dessa fruta?
Gostei da relação de Cecília com o anjo, que aparecia sempre que alguém da família dela não estava por perto (o que, consequentemente, fez com que ela afastasse ainda mais seus familiares) e a levava para “aventuras”, como esquiar ou simplesmente passear pela cidade durante a noite. Acredito que a idade de Cecília não tenha sido mencionada (pelo menos não me lembro, e depois de folhear o livro, também não encontrei), mas fica claro que ela é uma criança, pois mesmo estando à beira da morte, acredita fielmente que vai ficar boa e que os choros de sua mãe são desnecessários, afinal, logo ela será capaz de se levantar da cama e brincar normalmente.
Confesso que as atitudes de Cecília me incomodaram muito; não sei se é o temperamento dela ou se é assim que crianças agem com os pais (convivo com crianças de idades diversas por trabalhar numa escola e nunca vi nenhuma falar desse jeito com nenhum adulto), mas o tempo todo ela era rude com os pais, usando um tom de voz arrogante e afastando sua família. Ela também agia assim com o anjo, mas o relacionamento deles era outro: ele devolvia na mesma moeda e não se sentia ofendido, diferente da mãe da menina.
“Todas as estrelas um dia acabam caindo. Mas uma estrela é apenas uma pequenina centelha do grande facho de luz que há no céu.” – página 124
Gostei do livro, gostei das reflexões e das teorias que as personagens trazem, e tenho curiosidade de ler outras obras do autor, pois imagino que sigam a mesma linha, pendendo para a filosofia, mas realmente não consegui gostar de Cecília. Entendo que ela estava morrendo e que normalmente as pessoas se comportam de maneiras diferentes quando sabem que vão morrer – mesmo que ela tivesse esperanças de ficar boa – mas dá para entender que ela já era assim antes, portanto, essa é a sua maneira “normal” de agir e falar. Resumindo, é um livro muito bom que nos faz refletir bastante sobre nossa existência e sobre as coisas mais simples dela, que de tão simples, acabam passando batidas.
3 milkshakes
Gostei...vou procurar saber sobre ele...
ResponderExcluirAcessem: Cliquefarma