A criança no tempo

Olá a todos,

Hoje trago a resenha de A Criança no Tempo, do (incrível) Ian McEwan. Por favor se inspirem e também leiam o livro.

Título: A Criança no Tempo
Autor: Ian McEwan
Editora: Companhia das Letras (cortesia)
Lançamento: 2018
Páginas: 289

Sinopse: Do autor de Reparação e Enclausurado e vencedor do Man Booker Prize, um romance contundente sobre a dor do desaparecimento de um filho.Numa ida rotineira ao supermercado, Stephen Lewis, escritor bem-sucedido de livros infantis, se depara com a maior agonia de um pai: Kate, sua filha de três anos, desaparece sem deixar rastros. Numa imagem terrível que se repete ao longo dos anos seguintes, ele percebe que a garota não vai voltar.Com ternura e sensibilidade, Ian McEwan nos leva ao território sombrio de um casamento devastado pela perda de um filho. A ausência de Kate coloca a relação de Stephen e de sua esposa Julie em xeque, enquanto cada um deles enfrenta à sua maneira uma dor que só parece se intensificar com o passar do tempo. Vencedor do Whitbread Award, A criança no tempo discute temas como ausência, luto, culpa e as marcas indeléveis que um acontecimento pode deixar em uma família. Um romance surpreendente de um dos melhores escritores de sua geração.

Resenha

Ian McEwan é um dos maiores romancistas de nosso tempo (ponto). Após uma delicada leitura - que parece impossível devido a bruta realidade estabelecida pelo autor - de A Criança no Tempo, o leitor percebe que McEwan realiza tudo em sua narrativa; dor, perda, solidão e extrema alegria. É como uma montanha-russa, mas sem as bancas de algodão-doce ou os clichês permitidos.

Stephen é um escritor de livros infantis, após a publicação de Limonada, sua estréia, por uma grande editora londrina - chefiada por seu amigo Charles - ele perde sua filha, Kate, em uma rotineira ida ao supermercado. Em um desviar de olhares, a filha de 3 anos some sem deixar rastros ou a esperança de sua volta. O casamento com Julie desaba de forma colossal e a única coisa que sustenta seu cotidiano é o trabalho no Parlamento, onde cuida de assuntos ligados a educação - principalmente com relação a alfabetização. Os amigos mais próximos são Charles e Thelma, o seu editor que antes chefiava a editora, deixou os livros infantis para usufruir de um nobre cargo no governo.

A Criança no Tempo gira em torno da perda abrupta de uma criança e a dor presenciada por aqueles que são desamparados pela dúvida e pela normalidade imposta pela vida, pois, aparentemente, o tempo não vai parar para que você se conserte. É com essa força e com todos os adjetivos presentes nas linhas de seu livro que Ian McEwan nos guia até a reparação de seu personagem principal, Stephen. Nesse meio-tempo - que prefiro descrever como sendo uma ópera - a infância e o papel da educação na vida da criança e do pais é discutido; qual a força das palavras a partir da alfabetização na criança? Quais são os limites da escola? É pela lírica e por uma narração, genialmente, psicológica que se obtêm as devidas respostas.

O tempo estava redimido, o tempo voltava a ter propósito por ser o meio de realizar o desejo.

O personagem principal Stephen é, em todo tempo, munido de devaneios e recordações sobre sua criação e pela cena onde 'perdeu' sua filha. A bagagem que o personagem apresenta é essencial para a criação do romance, os pais de Stephen passaram por um momento de mudanças na sociedade inglesa e foram vítimas da Segunda Guerra Mundial, consequentemente criando um filho para um mundo áspero e perigoso. Antes do início de cada capítulo um trecho do manual de puericultura (criação de filhos) é introduzido, fazendo com que o leitor entre em contato com as discussões do Parlamento acerca da infância, pois, inevitavelmente, é neste cume que o romance também se faz.

Um autor com pouca criatividade e força faria com que este fosse um livro tedioso e pouco proveitoso, porém estamos falando de um escritor que se entrega com toda força e não se rende até que seu personagem esteja, digamos, "completo". Tive a mesma sensação em outros livros que li do autor, todos marcados pela intensidade e inteligência de seu criador.

Recomendo A Criança no Tempo para os leitores de Mia Couto e Elena Ferrante. Sem mais delongas, o livro falará por si só (sorriso no rosto).