Aproveitando o pique, trouxe mais uma resenha, uhu!
Título: A arte de correr na chuva
Autor: Garth Stein
Editora: Paralela (cortesia)
Páginas: 208
Edição: 2
Lançamento: 2016
Sinopse: Enzo sabe que é um cachorro diferente. Quase humano, passa horas filosofando e é obcecado com televisão: aprende tudo por lá. Além disso, presta muita atenção nas palavras de seu mestre, Denny Swift, um piloto de corridas. Enzo aprendeu muito sobre o que significa ser um humano com Denny. A vida, assim como a corrida, não é apenas sobre a chegada. As técnicas para a pista podem ser aplicadas a todas as etapas da vida. Agora, prestes a morrer, Enzo reflete sobre tudo pelo qual já passou com sua família humana. Os sacrifícios que Denny fez para ser bem-sucedido, mesmo após a morte de sua esposa, Eve; assim como as dificuldades em ser pai de Zoë. Apesar de estar ciente de suas limitações, Enzo ainda consegue ser o herói da família Swift. Uma história comovente sobre lealdade, esperança, família e amor.
Resenha
Enzo é um cachorro, mas um cachorro diferente; ele gosta de assistir televisão, de brincar com Zoe, de passear com Denny e principalmente de ser o co-piloto na pista de corrida. Nosso querido narrador foi adotado por um piloto profissional quando ainda era um filhote, e desde então manteve sua paixão por corridas e, mais ainda, por corridas em que se encontrava dentro do carro, com Denny.
Narrando a história de como Denny quase perdeu tudo - esposa, filha, dinheiro, casa -, Enzo dá uma lição sobre a vida, sobre como aproveitar cada momento e, mais ainda, sobre nunca desistir até dar a última volta, pois tudo pode mudar até o último segundo.
"Não é desonra nenhuma não vencer uma corrida", disse Don. "Desonra é não correr por medo de perder." - página 179
Tudo começa, obviamente, com a adoção deste cachorrinho narrador, e vai até o momento de sua morte, narrada tanto no início quanto no final do filme; como Denny o escolheu, como se tornaram amigos e companheiros. Passando pelo amor de Denny com Eve, pelo nascimento de Zoe, a doença e o desespero de Eve, a luta de Denny pela guarda da filha quando tudo parecia ir contra ele e pender para que não a tivesse - Enzo estava presente em todos estes momentos, utilizando-se de metáforas esportivas para manter a esperança de que tudo daria certo no final, mesmo que ninguém pudesse ouvi-lo.
É por isso que serei uma boa pessoa. Porque eu escuto. Não posso falar, por isso escuto muito bem. Nunca interrompo, nunca mudo o rumo da conversa com um comentário pessoal. As pessoas, se prestarmos atenção nelas, mudam constantemente o rumo das conversas. É como levar um passageiro que de repente agarra o volante e o vira, fazendo o carro entrar numa transversal. - página 72
Confesso que o único motivo de ter solicitado este livro foi o fato de ele ser narrado por um cachorro; acredito fielmente que os animais possuem sentimentos e, mais do que isso, a capacidade de entender o que está acontecendo com seus donos, então acompanhar os acontecimentos pelo ponto de vista de Enzo foi muito interessante; tirando os extensos momentos em que ele falava sobre corrida e corredores profissionais - muitas vezes tomando a página toda -, achei a escrita do autor bem leve e fluída, e num geral, gostei.
A história de Denny é um tanto triste, era como se ele nunca conseguisse chegar, de fato, ao fundo do poço: sempre aparecia mais alguma coisa para empurrá-lo para baixo, e eu temia que ele se deixasse afundar. Felizmente Enzo estava na equação: mesmo que seu dono não pudesse ouvir sua opinião, Enzo a deixava bem clara com gestos - latidos, mijadas em papéis, fugas pela janela -, alguns deles, inclusives, me fizeram rir.
Enzo foi o que manteve Denny inteiro, foi o que fez Denny continuar lutando quando tudo parecia acabado: e foi por isso que eu não consegui ler o momento em que ele morreu. Pulei as páginas - e não me envergonho...rsrs - pois não aguentaria imaginar um cãozinho tão fiel e doce partindo, pois mesmo que seja apenas uma história, dói como se fosse verdade.
Ele hesita, e percebo que acha que meu incidente aconteceu porque ele se atrasou. Oh, não. Não era para que achasse isso. É tão difícil me comunicar, são tantas as partes que se mexem. Há a representação e a interpretação, e elas são tão dependentes uma da outra que as coisas se confundem. Não queria que ele se sentisse mal por isso. Queria que enxergasse o óbvio, que seria legal ele me deixar partir. Ele tem passado por tanta coisa, e agora por mais essa. Não pode mais ficar se preocupando comigo. Preciso libertá-lo para que ele possa brilhar. - página 11
Talvez essa nem seja a parte mais triste de tudo; Enzo sempre sonhara em renascer como um ser humano, ele treinava algumas ações e reações para não parecer tanto um cachorro e sim um homem, e vivia dizendo sobre como, na próxima vida, seria uma pessoa. Mal sabia ele que a maior pureza existente no mundo não se encontra em nós, mas em todo animalzinho de quatro patas.
Tenho exercitado um jeito humano de caminhar, por exemplo. Tenho praticado uma mastigação demorada, como fazem as pessoas. Vejo televisão, ouço dicas de como me comportar e aprendo a reagir frente a determinadas situações. Na minha próxima vida, quando nascer novamente como humano, já serei praticamente um adulto no instante em que for tirado do útero, por causa de toda a preparação que já fiz. - página 47
Essa não foi a melhor leitura da minha vida; pode até ter passado bem longe disso, mas foi uma leitura memorável, uma história surpreendente cheia de altos e baixos - mais baixos do que altos, mas tudo compensador - que vai ficar comigo por muito tempo, e eu não poderia esperar mais de um livro narrado por um personagem cachorro: a carga emocional é grande, mas o aquecimento no coração no final é ainda maior.
"Às vezes acho que você me entende", disse. "É como se houvesse uma pessoa aí dentro. Como se você soubesse de tudo." E eu sei, disse a mim mesmo. Eu sei. - página 45
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