Hoje trago a resenha de Terra Estranha, de James Baldwin - autor que tive a oportunidade de conhecer através deste livro.
Autor: James Baldwin
Editora: Companhia das Letras (cortesia)
Lançamento: 2018
Páginas: 568
Sinopse: Este romance de fôlego, publicado em 1962, tem como pano de fundo os clubes de jazz de Greenwich Village, em Nova York, na década de 1950. Rufus, um baterista negro em decadência, se envolve com Leona, uma mulher branca nascida no sul dos Estados Unidos. Dessa relação complexa em sua origem, desdobram-se temas caros a James Baldwin, como raça, nacionalismo, identidade, depressão e bissexualidade.Em Terra estranha, o celebrado autor de O quarto de Giovanni constrói uma obra comovente, violenta e apaixonada, cujos personagens tentam reverter a todo custo as barreiras da segregação racial e das convenções burguesas em busca da felicidade e de si mesmos.
Resenha
Decido começar essa resenha com algumas questões. Como falar da obra de Baldwin? Como resenhá-la sem comprometer sua respectiva complexidade? Terra Estranha me pareceu, ao ver a capa e a sinopse, um livro de temas complexos e desconhecidos para mim. Após concluir a leitura, continuo com a mesma impressão, porém certo de que Baldwin é um talentoso escritor.
Ambientado em uma Nova Iorque que se assemelha com o ambiente narrado em Just Kids, de Patti Smith, Rufus Scott é um talentoso cantor, conhecido por sua personalidade excêntrica e auto-destrutiva. Após um show de blues em uma boate conhecida por seu grupo de amigos, Ruffus conhece Leona, uma sulista que imediatamente demonstra interesse por ele. O breve relacionamento dos dois é explosivo e destrutivo - Ruffus agredia Leona e dizia que ela só se interessava por ele por causa da cor de sua pele.
Mas muitos outros seguiam invisíveis, transformados em alcoólatras ou drogados, ou haviam embarcado numa procura pelo psiquiatra perfeito; tinham casamentos rancorosos e se procriavam e engordavam; sonhavam os mesmos sonhos (...)
Terra Estranha não se relaciona exclusivamente com a vida de Ruffus, as páginas deste romance se comprometem com seu grupo de amigos e amantes. Vivaldo, melhor amigo do personagem principal, é um aspirante a escritor que vem de uma pobre família irlandesa de Nova Iorque. Eric, ex-amante de Ruffus, é um ator que se exilou em Paris após uma experiência tortuosa em Nova Iorque. Cass, ou Clarissa, é mulher de um escritor noviço, Richard, e se vê em um infeliz e desastroso casamento. Dado este espiral de personagens, Baldwin descreve uma cidade de preconceito racial, fracassos no mundo da arte e amores.
Muitas vezes havia pensado em sua solidão, por exemplo, como um fator que atestava sua superioridade. Mas pessoas que não eram superiores também podiam ser extremamente solitárias - e incapazes de romper com a solidão justamente por não terem ferramentas para entrar nela.
Talvez o mais interessante elemento presente em Terra Estranha seja o confrontamento com várias questões que, para a época onde o romance foi publicado, eram inéditas - bissexualismo, racismo e o próprio colapso da sociedade estadunidense. As relações de Rufus com todos estes personagens, que de alguma forma o construíram como personagem, é o que sustenta todo o livro. Até penso que talvez tenha sido um pequeno equívoco centrar, na sinopse, todo o livro em Rufus e Leona.
A escrita de Baldwin demora pra acontecer, admito que tive vontade de desistir do livro nas primeiras 100 páginas, porém o autor atinge um clima e uma forma de empilhar as ações que impressiona. O autor perde algum tempo para centralizar os longos diálogos entre os personagens, porém compensa pela paixão com que pinta os cenários e as emoções afloradas dos personagens. Reduzir Terra Estranha a uma mera discussão é um desperdício, pois o livro é como um caleidoscópio, sempre apresentando novos e diversos emblemas e confrontos - não apenas acerca da bissexualidade e do racismo, mas sim definindo e retratando o comportamento da sociedade americana da época.
Não tive a oportunidade de ler Terra Estranha em sua versão original - em inglês, porém acredito que a tradução de Rogério Galindo flui de maneira bem orgânica - salvo alguns erros de revisão.
Recomendo Terra Estranha para quem gostou de Just Kids (Só Garotos) de Patti Smith e de On The Road de Jack Kerouac.
Nenhum comentário
Postar um comentário
Oiê! Muito obrigada por passar por aqui, deixe um recadinho com o link do seu blog e a gente dá uma passadinha lá mais tarde :)