Maria Bonita - sexo, violência e mulheres no cangaço

Oiee pessoal *-*
Sei que estamos sumidos - shame on us - mas espero que a partir de agora consigamos trazer tudo de volta para os trilhos! Comecemos com a resenha de Maria Bonita, livro de Adriana Negreiros que traz a biografia da Rainha de Cangaço!

Título: Maria Bonita – sexo, violência e mulheres no cangaço
Autora: Adriana Negreiros
Editora: Objetiva (cortesia)
Páginas: 296
Edição: 1
Lançamento: 2018
Sinopse: A mulher mais importante do cangaço brasileiro, que inspirou gerações de mulheres, ganha agora sua biografia mais completa e com uma perspectiva feminista. Embora a mitificação da imagem de Maria Bonita tenha escondido situações de constante violência, ela em nada diminui o caráter transgressor da Rainha do Sertão.
Desde os anos 1990 quando Vera Ferreira, filha do casal de cangaceiros mais famoso do Brasil, cravou como data de nascimento de sua mãe o 8 de março, Maria Bonita é celebrada no Dia Internacional da Mulher. Com o tempo, transformou-se em uma marca poderosa. Enquanto a companheira de Lampião viveu, no entanto, essa personagem nunca existiu. A cangaceira que teve a cabeça decepada em 28 de julho de 1938 era simplesmente Maria de Déa: uma jovem de 28 anos que morreu sem jamais saber que, um dia, seria conhecida como Maria Bonita.
Nos anos em que viveu com Lampião e nos subsequentes à sua morte, despertou pouco interesse em pesquisadores ou jornalistas. E foi essa lacuna de informações sobre sua vida e a das outras jovens que viviam com o bando que contribuiu para que se criasse a fantasia de uma impetuosa guerreira, hábil amazona do sertão, uma Joana D'Arc da caatinga. Essa versão romântica e justiceira de Maria Bonita, rapidamente apropriada pela indústria cultural, tornou-se um produto de forte apelo comercial — e expandiu seus limites para além das fronteiras do sertão.

Resenha
“Quando a gente morrer, será que as pessoas vão se lembrar?” – página 15

Maria Bonita só passou a existir quando Maria de Déa morreu, naquele 28 de julho de 1938, quando quase metade do bando de Lampião (ele, incluso) foi massacrado pela polícia.
Maria Gomes de Oliveira não fora raptada de casa e obrigada a se juntar ao bando, como acontecia com a maioria das mulheres; ela havia escolhido entrar para o cangaço porque era muito infeliz no casamento, e neste livro, a autora traz a biografia mais completa da Rainha do Cangaço que eu já vi, abordando, principalmente, o papel feminino no cangaço.

Uma das coisas que mais impressionam no livro é ver que Maria não era bem uma santa; ela havia entrado no cangaço por vontade própria, se apaixonado por Lampião – o criminoso brasileiro mais conhecido internacionalmente -, ao que consta nunca fora estuprada por ele, e ajudava a torturar as vítimas do bando. Claro que as circunstâncias e a maneira como as coisas funcionavam na época tiveram algo a ver com isso, mas diferente de muitas (até mesmo de Dadá), Maria não fora refém do destino: ela havia escolhido aquele caminho.

Mas é claro que os cangaceiros não eram os únicos seres violentos na história: os policiais, chamados de “macacos” por eles, não ficavam muito atrás. Os registros de tortura que a autora traz são de revirar o estômago, e ambas as partes, tanto polícia quanto cangaço, sabiam como fazer alguém implorar pela morte: eles eram muito cruéis, uma crueldade sem tamanha que continuava até mesmo depois que a pessoa já estava morta. Foi o que aconteceu quando mataram Maria: não se contentaram em atirar em sua barriga e arrancar sua cabeça com ela ainda viva: enfiaram um pedaço de madeira em suas partes intimas.

O interessante é que, mesmo sendo o braço direito do Rei do Cangaço e uma pessoa muito importante para ele, Maria só teve fama depois que morreu. Sabia-se de sua existência, e sabia-se também que, apesar de sair estuprando quem visse pela frente, Lampião sempre voltava para uma mulher: Maria de Déa. Outro fato interessante acerca dos cangaceiros: após a inclusão de Maria no grupo, outras mulheres foram juntando-se a eles (a maioria contra a própria vontade), e praticamente todos os cabras já possuíam alguém. Sim, possuir, porque as mulheres eram vistas como propriedades, tanto que, quando aconteciam casos de “adultério”, cabia aos homens decidir o que fazer com elas. Em todas as vezes eram brutalmente assassinadas, enquanto a outra parte da equação (os cabras que “traíam” os companheiros) continuava viva.

Como regra, depois da morte de seus maridos, as mulheres ficavam à disposição dos outros cabras, como um patrimônio sem herdeiro certo. Um cangaceiro solteiro poderia, se quisesse, pegar a moça para ele. Se houvesse mais de um interessado, que resolvessem a disputa entre si, amigavelmente. Caso não despertasse o interesse de ninguém, o mais recomendável era que fosse morta, pois, caso voltasse para casa, poderia entregar os segredos do grupo para a polícia. A presença de mulheres solteiras era rigorosamente proibida no bando. Só ficava ali quem tinha dono. – página 124

Achei engraçado que, mesmo no cangaço, haviam intrigas e rixas femininas. Algumas cangaceiras não gostavam de Maria porque a achavam muito “arrumada” e “metida”, e consta em vários registros que ela estava sempre com joias caras, muito arrumada, e quase nunca ajudava com as “tarefas domésticas”, preferindo cuidar de seus cachorros.
A autora também fala sobre como os cangaceiros se aproximavam mais da burguesia que dos pobres da época, já que estavam sempre roubando e matando de acordo com seus interesses pessoais; eles não passavam fome, e a sede era culpa da seca: raramente havia água o suficiente, tanto que muitos ficavam doentes por causa disso. Adriana menciona que, muitas vezes, as pessoas comuns se viam presas em encruzilhadas, tendo que escolher entre morrer pelas mãos dos cangaceiros ou da polícia. Além de, claro, sofrerem o abandono do governo – Vargas e depois Prestes deram uma ocupação muito grande para o país – e pelas mãos da seca.

No entanto, enquanto a mulher de Lampião viveu, a personagem nunca existiu. A cangaceira que teve a cabeça decepada em 28 de julho de 1938 era simplesmente Maria de Déa: uma jovem de 28 anos que morreu sem jamais saber que, um dia, seria conhecida como Maria Bonita. – página 16

Adriana Negreiros escreveu um livro completíssimo e percebe-se que teve que pesquisar muito para trazer esta obra literária que tenho em mãos; não é fácil encontrar registros de alguém que só ficou conhecida (erroneamente) após sua morte. Principalmente porque a mídia se apropriou da imagem de Maria e a fez parecer heroica e justiceira quando, na verdade, ela era apenas uma versão feminina de Lampião: uma pessoa cruel que matava sem escrúpulos, torturando e humilhando quem quisesse. A diferença é que ela era uma mulher que também desejava sair daquela vida, até que foi tarde demais.

Quando Maria Gomes de Oliveira morreu, nasceu Maria Bonita. – página 235


9 comentários

  1. Oi Dhry,
    E quem é que nunca ouviu falar de Maria Bonita não é mesmo? Ainda mais se tiver parentes criados no nordeste. Eu sempre ouvi ela ser citada durante a minha infância, mas confesso que não sabia dessa relação com a maldade, achei o livro instigante e cultural, ela mesmo ruim é um símbolo histórico do nosso país, dica anotada.

    Beijokas

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  2. Oi Dryh,
    Acho que todos nós, em algum momento da nossa vida, já ouvimos falar de Lampião e Maria Bonita, mas não quer dizer que tenhamos conhecimento da história real e do que, de fato, aconteceu. Fiquei contente por esse livro ser tão completo assim e intrigada para saber como vou me sentir ao ler esse livro e ver essas intrigas que existiam entre as mulheres.
    Adorei sua resenha e vou super anotar a dica.
    Beijos

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  3. Oi Dry tudo bem? Lendo sua resenha me pareceu muito com uma terra sem lei, pois se ficar o bicho pega e se correr o bicho come, que época difícil, pois mulheres eram mercadorias, não tinha pessoas boas só más, já tinha ouvido falar desse livro, pois é bastante conhecido foi feito um filme sobre ele, mas achei superficial com o que li aqui, parabéns pela resenha, foi bem explicativa, obrigado pela dica, bjs!

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  4. Oii Dryh. .

    Menina não conhecia esse livro e confesso pra ti que acho muito interessante a história de lampião e Maria bonita, entretanto, não sou muito chegada a ler biografias, então acredito que esse livro não seja para mim

    Beijos

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  5. Olá.

    Confesso que não conhecia o livro e que história chocante! Achei bem instigante e interessante. Acredito que é aquele típico livro de ler com o coração aberto e se preparar para os choques de realidade.

    Beijos,
    Blog PS Amo Leitura

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  6. Oi Dri.

    Eu não conhecia este livro e pela sua resenha, confesso que fiquei bastante curiosa para ler. Ainda não li nada sobre os cangaceiros especialmente sobre Maria Bonita. Com certeza é uma história bem interessante. Obrigada pela dica e parabéns pela resenha.

    Bjos
    https://historiasexistemparaseremcontadas.blogspot.com/

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  7. Oi, tudo bem? Que resenha mais incrível. Nunca imaginei que a história sobre Maria Bonita tinha sido tão diferente daquela que sempre nos contam. Acredito realmente que a mídia cria "personagens" assim para dar mais audiência e valorizar alguém em especial. Com certeza vale a pena ler a obra. Beijos, Érika =^.^=

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  8. Olá, tudo bem? Ah adoro quando livros trazem histórias desmitificadoras, principalmente de pessoas. Confesso que não sou muito de ler biografia, mas fiquei curiosa justamente por termos um outro olha sobre essa personagem tão conhecida. Adorei a sua resenha!
    Beijos,
    https://diariasleituras.blogspot.com/

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  9. Oi, Dryh, tudo bom? Menina, não sabia da existência desse livro, li sua opinião e achei o máximo, muito das coisas que você citou sobre a história dela eram desconhecidas para mim! Cara, arrasou! Amei a resenha!

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Oiê! Muito obrigada por passar por aqui, deixe um recadinho com o link do seu blog e a gente dá uma passadinha lá mais tarde :)

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