O ódio que você semeia

Oiee pessoas \0/

Título: O ódio que você semeia
Autora: Angie Thomas
Editora: Galera (cortesia)
Páginas: 378
Edição: 1
Lançamento: 2017
Sinopse: Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial. Não faça movimentos bruscos. Deixe sempre as mãos à mostra. Só fale quando te perguntarem algo. Seja obediente.
Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto.
Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos - no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu início. Acima de tudo Starr precisa fazer a coisa certa.

Resenha

Desde pequena, Starr aprendeu como se comportar em frente a um policial. Deixar as mãos à mostra, só responder quando falarem com ela, obedecer e não fazer movimentos bruscos. Vivendo num bairro perigoso chamado de “gueto”, mas também conhecido como Garden Heights, Staar estava mais do que acostumada a se trancar dentro de casa, ouvir tiros durante a noite e ver traficantes vendendo nas ruas. Só que ela não estava preparada para o que viria.

Mamãe se agitou e falou para o papai que eu era nova demais para isso. Ele argumentou que eu não era nova demais para ser presa nem levar um tiro. – página 24

Saindo de uma festa que dera errado, acompanhada de um amigo de infância, Khalil, ela vê sua vida virar de cabeça para baixo quando uma viatura os para, e, após uma suposição errada, Khalil é morto, e Starr é a única testemunha do acontecido. Sendo a única voz capaz de defender seu amigo e conseguir alguma justiça, Starr tem medo das retaliações que poderia receber caso abrisse a boca. Ela já tinha sido ameaçada por gangues e até mesmo pela polícia.... Mas deveria ficar quieta?

Não foi a primeira vez que Starr vira um amigo morrer, só que agora, ela poderia fazer alguma coisa. Ela não sabia, contudo, se deveria arriscar a vida de sua família para lutar uma luta que muitos sabiam que já estava perdida, e como contar com seus amigos da escola, quando eles nem mesmo sabiam o que tinha acontecido, e ela não queria falar sobre isso? Desde os 10 anos de idade, Starr passou a estudar numa escola localizada em outro bairro, o bairro “dos brancos”, da elite, onde seus pais sabiam que ela e os irmãos estariam seguros. Mas lá ela era uma pessoa totalmente diferente, tentava se encaixar e não deixar muito claro que era do “gueto”.

Eu estava muito animada para ler este livro, a sinopse tinha me deixado curiosa e eu sabia que encontraria uma história muito boa. Só não imaginei que fosse me surpreender tanto com Starr e com a trama criada por Angie Thomas. Não encontrei apenas uma adolescente confusa sobre se deveria ou não falar; encontrei uma garota forte e corajosa disposta a encontrar justiça por um amigo que morrera por nada, uma menina que, apesar de sentir vergonha do bairro onde vivia e media palavras e ações quando chegava a Williamson (onde estudava) para não dar razão aos estúpidos estereótipos, queria lutar e não ia se calar. Não quando Khalil precisava dela.

A verdade gera uma sombra na cozinha: pessoas como nós em situações assim viram hashtags, mas raramente conseguem ter justiça. Mas acho que todos esperamos que essa vez chegue, a vez em que tudo vai acabar da forma certa. Talvez possa ser agora– página 55

Eu já tinha lido livros cujos protagonistas eram minorias antes, mas esse foi o primeiro que eu li que abordava tantos assuntos sérios e pesados ao mesmo tempo, sem deixar a leitura arrastada ou leve demais. A autora soube dosar tudo muito bem, desde o romance entre Starr e Chris (seu namorado branco, o que traz uma abordagem interessante sobre relacionamentos inter-raciais) até a luta pela igualdade e justiça, indo desde a morte de Khalil até o momento em que o policial foi julgado, trazendo muitas reflexões que ultrapassam as barreiras do livro. Para se ter uma ideia, só nos Estados Unidos, até novembro de 2016, mais de 309 pessoas negros foram mortos por policiais pelo simples motivo de serem negros, e, como vemos na televisão (mais do que gostaríamos), casos assim estão sempre acontecendo, seguidos por manifestações e quebra-quebra, já que, em 99% dos casos, os policiais nem mesmo são indiciados.

Era uma vez um garoto de olhos castanhos e covinhas. Eu o chamava de Khalil. O mundo o chamava de bandido. Ele viveu, mas não por tempo suficiente, e, pelo resto da minha vida, vou me lembrar de como ele morreu. – página 371

Uma coisa que me agradou muito nesse livro foi ver o quanto a família de Starr é unida e se apoia mutuamente, assim como alguns vizinhos, mesmo em meio à tanta confusão e brigas. Claro que eles passavam por muitos problemas, indo desde o uso de drogas até brigas entre gangues, mas passavam por tudo juntos e, desde o momento em que Starr presenciou a morte do amigo, seus pais deixaram bem claro: estavam do lado dela, fosse ela falar ou não. E o livro também tem vários momentos engraçados e fofos, o que só o deixou ainda melhor.

*
Terminei de ler O ódio que você semeia numa mistura de choque e aceitação (afinal, eu não queria que o livro acabasse, mas não havia nada que pudesse fazer, né?) e fui logo pesquisar outras resenhas para ver se outras pessoas também tinham adorado a história. Sim, outras pessoas adoraram a história! Depois disso, pesquisei sobre a incidência de crimes policiais contra jovens negros nos Estados Unidos, e foi aí que encontrei este site: Mapping Police Violence, achei interessante, pois, por mais que insistamos em dizer que não importa a cor da pele e todos somos iguais, sabemos que uma pessoa negra tem muito mais chances de ser morta pela polícia do que uma branca, né?
Encontrei também um número assustador: só neste ano (ainda estamos em setembro!), mais de 339 pessoas negras já foram mortas por policiais nos EUA, e trazendo isso mais para perto de nós, no Brasil, a cada 23 minutos um jovem negro é morto!

*
Fiquei muito feliz quando vi que O ódio que você semeia será adaptado, mas não estou totalmente certa de que o verei assim que lançar, pois já me vejo chorando em várias cenas (que eu espero que estejam na adaptação). Ainda assim, é incrível ver que um livro que aborda assuntos tão importantes será levado para as telonas, quem sabe assim (e também com o próprio livro) consigamos atingir mais pessoas e possamos melhorar o mundo só um pouquinho <3

“Às vezes, você pode fazer tudo certo, e mesmo assim as coisas dão errado. O importante é nunca parar de fazer o certo.” – página 134


11 comentários

  1. Tudo neste livro me interessa e acho que por mais que se converse sobre os temas abordados, ainda é preciso discutir muito. Sei que vou terminar a leitura como você terminou: satisfeita!!!
    Meu Amor Pelos Livros
    Beijos

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  2. O tempo passa, tudo evolui, menos a mentalidade de algumas pessoas! É muito triste que a cor da pele cause tamanha injustiça!! O livro parece muito bom, apesar do enredo triste. Anotei a sugestão!
    Bjs!
    Cidália (Contos da Cabana)

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  3. Oi tudo bem?
    Nossa adorei a premissa do livro, gosto de livros que falam sobre assuntos fortes que nos levam a refletir e o ódio que você semeia fala de um assunto bem atual que é o preconceito, vou ler em breve e fiquei feliz também que ira ser adaptado para o cinema.

    Beijos

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  4. Quando li o título desse livro,pensei em se tratar de um livro inteiramente sobre a questão racial,mas sem ter uma história no meio sabe? Vendo que não é só isso fico com vontade de ler ele.

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  5. Oi.
    Eu não conhecia o livro, e gostei de saber que aborda um tema tão relevante. Gostei também por não ser algo tão pesado o tempo todo, tem os dramas adolescentes para contrabalancear o enredo. Na verdade, lembra um pouco o seriado Todo mundo odeia o Chris.
    Gostei bastante da dica e pretendo conferir.
    Beijos.

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  6. Olá! Eu não tinha ouvido falar desse livro, mas a premissa dele não me atraiu em nada., vou deixar a dica passar, mas quem sabe eu não assista a adaptação. Mas eu adorei o post, fico feliz que tenha gostado do livro ♥

    um beijo

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  7. Oi, Dryh

    Nossa, não sabia que os dados da violência contra negros nos EUA eram tão alarmantes. Esse livro chama muito minha atenção pela tematica, mas principalmente pela família de Starr, quero muito conhecê-los! Excelente resenha!

    Bei

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  8. oi, dri, nossa, que bom ver alguém que amou tanto o livro quanto eu amei. Fiquei encantada e queria mais uns dez livros sobre starr e sua família maravilhosa. Realmente, a autora dosou maravilhosamente bem fazendo ser leve e trabalhando temas pesados. Espero que essa autora escreva mais coisas incríveis como essa obra.

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  9. Oi Dri, tudo bem? Infelizmente essa é a realidade não só dos EUA como do Brasil. O preconceito com pessoas negras ou de classes menos favorecidas ainda é muito enraizado no nosso povo. Uma pena ne? É como se o comportamento das pessoas não condissesse com a realidade e o mundo em que vivemos. E aqui no Brasil o índice de policiais corruptos, que caem em cima na retaliação e coisas do tipo como as que a história retrata é mais comum do que a gente imagina. Não conhecia esse livro mas já tô ansiosa pra ler e descobrir com a Starr vai lidar com essa situação. Bjossss

    www.porredelivros.com

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  10. Oi, Dri.

    Caracaaaaaaa, não sabia que esse livro era tão bom assim. É muito dificil agente ver livros com protagonistas negros e amei muito mesmo a proposta dessa trama. É muito legal ver a autora mostrando a realidade que acontece com jovens negros e o tamanho preconceito que eles sofrem. São estatísticas tristes :/
    Já adc o livro a minha lista de desejados! Amei!

    Beijos

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