Frank e o amor

Durante praticamente todo o livro, fiquei me perguntando de onde tinha visto o sobrenome Yoon antes. Ao fazer esta resenha, precisei pesquisar os dados da obra, e aproveitei para pesquisar sobre o autor: ele é o marido da autora Nicola Yoon, escritora de Tudo e todas as coisas!

Título: Frank e o amor
Autor: David Yoon
Editora: Seguinte
Páginas: 400
Lançamento: 2019

Sinopse: Frank está descobrindo o amor ― e você está prestes a se apaixonar por este livro.
Frank nunca conseguiu conciliar as expectativas de sua família tradicional coreana com sua vida de adolescente na Califórnia. E tudo se complica quando ele começa a sair com a garota de seus sonhos, Brit Means, que é engraçada, inteligente, linda… Basicamente a nora perfeita para seus pais ― caso tivesse origem coreana também. Para poder continuar saindo com quem quiser, Frank começa um namoro de mentira com Joy Song, filha de um casal de amigos da família, que está passando pelo mesmo problema. Parece o plano perfeito, mas logo Frank vai perceber que talvez não entenda o amor ― e a si mesmo ― tão bem assim.

Resenha

Frank está na reta final do ensino médio: prestando os vestibulares e sonhando com as cartas de aprovação das faculdades que sonha frequentar. Ele também enfrenta vários dilemas: está namorando uma garota branca, o que para seus pais é um tremendo problema, considerando que são coreanos tradicionais que só se relacionam com seus amigos coreanos, são extremamente racistas e praticamente baniram Hanna (a irmã mais velha de Frank, que se casou com um rapaz negro) da família. Ele odeia que os pais odeiem outras pessoas sem razão alguma, mas também odeia o fato de não poder corrigi-los a respeito disso, pois tem medo de que possa acontecer com ele o mesmo que aconteceu com sua irmã.

Franzo a testa. Por que não repreendi meus pais toda vez que desfiaram suas teorias racistas contra negros, apoiadas por suas estatísticas inventadas? Porque meus pais são a mão que recebi, a mão com a qual estou preso. Gostaria de poder dizer alguma coisa. Em favor de Q e de mim mesmo. Mamãe-e-papai nunca vão enxergar meu verdadeiro eu se mantiver o que penso escondido. Mas tenho medo de repreendê-los, pra ser totalmente sincero. Porque um jovem tem que pertencer a algum lugar. E se você repreender seus pais e eles fecharem a porta na sua cara em resposta?

Frank é o que se pode considerar um nerd, e assim são seus amigos também: Q, que ao ver dos seus pais - sempre chamados de mamãe-e-papai - é o único cara negro que não é um criminoso; os Limbos, que são os filhos coreanos dos amigos de seus pais, que foram quase ao mesmo tempo para os EUA em busca de uma vida melhor, e que praticamente passam pelos mesmos problemas que ele (tem que casar com alguém coreano porque os negros são criminosos, os mexicanos são ladrões e os brancos são brancos), sua namorada branca, Brit, de quem ele esconde isso tudo, e Joy, sua "amiga coreana" que namora um rapaz chinês escondido dos pais.

O mais interessante deste livro, é que ele não é um simples romance entre Frank e Brit, como dá a entender no início. O amor que vem no título abrange outros tipos de amores: amizade, família, origens, e tantos outros! Frank não tem um bom relacionamento com os pais: eles mal falam inglês, e ele mal fala coreano, sem contar que não o escutam e falam coisas absurdas de racistas, mas ao longo do livro isso tudo vai melhorando aos poucos, ao mesmo tempo em que Frank passa a questionar o passado de seus pais e como isso pode e vai afetar seu futuro. Ele também questiona as decisões de sua irmã - que poderia ter sido um pouco mais presente na história - e isso faz com que questione suas próprias escolhas.

Fala-se também muito da amizade: Q e Frank são melhores amigos, e durante todo o drama amoroso de Frank, Q está ao seu lado, ajudando com o que pode e até mesmo tentando ajudar com o impossível, ambos sonhando em irem bem nos vestibulares e entrarem nas faculdades dos sonhos - de preferência, ambos em Stanford. O ponto mais intrigante e angustiante, porém, é o do sentimento de pertencimento: Frank não sente que pertence à Coréia, mas também não sente que pertence aos Estados Unidos; onde então ele se encaixa? Como ele pode encaixar sua vida americana e seus costumes americanos á vida coreana de seus pais, os costumes e tradições que vieram do outro lado do mundo? 

Tem mundos demais na minha cabeça - a escola, a Loja, a Reunião -, todos com suas próprias leis naturais confusas, forças gravitacionais e velocidades da luz. Só quero atingir velocidade de escape, ser lançado no espaço e povoar meu próprio planeta, do jeito que eu quiser. O planeta Frank. Onde só entra quem for convidado.

Confesso que quando comecei a ler o livro, não esperava encontrar tudo isso. Achei que seria "apenas" o conflito de Frank se apaixonar por uma menina que seus pais não aprovavam sem ao menos conhecê-la, mas me surpreendi com muito mais. Não vou mentir e dizer que aprovei todas as ações e palavras dele, mas todos já fomos adolescentes apaixonados tentando encontrar nosso lugar no mundo - se alguém conseguiu encontrar o seu, por favor, me diga como fazer -, então é compreensível a maneira como ele lida ou tenta lidar com as coisas. O final é um tanto emocionante, mas assim que terminei o livro, me veio à cabeça que o menos importante de tudo foi o desfecho: o que importou, ao meu ver, foi o caminho que Frank levou até chegar ao final, o quanto aprendeu, o quanto amou, se decepcionou e cresceu. Isso, sem dúvidas, foi o melhor do livro todo.

Sinto um friozinho na barriga. Minhas orelhas queimam. A gravidade se alivia o bastante para soltar todas as articulações, os pregos e os parafusos que mantêm o mundo preso, até que todas as suas peças estejam caindo levemente em um espaço enorme e suave, iluminado apenas pelo retângulo branco sob meus polegares. Minha namorada está me mandando mensagens.


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