Eu adoro escrever, sempre adorei. De uns tempos para cá, nos últimos dois anos, eu diria, ando escrevendo vários contos inspirados em músicas, e hoje escrevi Alguém que você amava, inspirado nas músicas Somebody you loved e Hold me while you wait, do Lewis Capaldi ♥
Deixarei os vídeos das músicas abaixo, caso queiram conferir :)
Alguém que você amava
Sentada
naquele banco duro e frio no meio do parque, em pleno inverno, Bruna pensava em
coisas aleatórias para passar o tempo. Seu nome parecia fazer sentido. Bruna,
cor de fogo, em nórdico. Seus cabelos tinham a cor do fogo, o que a destacava
em todos os lugares, principalmente ali, naquele parque vazio. E, às vezes, ela
tentava pensar em si mesma como uma mulher determinada cheia de fogo para ir
atrás do que desejava, uma mulher forte.
- Não tanto
agora. – murmurou, sentindo-se envergonhada. Cogitou ir embora mais uma vez,
mas sabia que, se fosse, ficaria se remoendo sem saber quando aquela dor
finalmente cessaria. Se cessaria.
Era engraçado,
pensou, como tudo parecia tão amortecido antes. Era como se Alex tivesse um
poder mágico de empurrar o real para longe, entorpecendo a dor ao menos por
algum tempo. Ela gostava disso, era mais fácil do que pensar na realidade, nos
problemas, na vergonha que sentia sempre que desejava alguma coisa e depois
desistia. Era mais fácil desistir. “Eu sou alguém que desiste”, pensou,
sentindo-se corar. Quando havia se tornado aquela garota envergonhada que se
contentava com o fácil e o confortável?
Bruna respirou
fundo, sentindo a garganta apertar e os olhos arderem. Não queria chorar, não
queria ESTAR chorando quando ele chegasse. Seria vergonhoso demais. Deprimente.
Sentia-se completamente triste e traída, mas não iria chorar. A sensação era de
ter sido derrubada, de ter seu tapete puxado depois de confiar tanto nele, de
estar afundando sem saber como voltar à superfície. Ela sabia que precisava
fazer isso sozinha, respirar fundo, decidir os próximos passos, sofrer um
pouquinho e então seguir em frente. Mas
primeiro preciso enfrentá-lo, preciso de um desfecho.
Precisa mesmo?
Uma voz disse em sua cabeça, fazendo-a bufar. Seus diálogos constantes com sua
própria consciência irritavam-na tremendamente, mas ela sabia que, no fundo,
estava certa. Teria que encontrar forças para superar tudo sozinha (talvez com
um pouco de carinho de Toddy, seu cachorro), e não ficar esperando que alguém
aparecesse para ajudá-la a encontrar um desfecho que poderia muito bem nem
existir. Fechou os olhos, ainda lutando contra as lágrimas, tentando se
desligar do mundo e esquecer a dor. Ah, como doía. Ela nunca imaginou que perder
a si mesma poderia doer tanto, mas doía ainda mais não saber como se encontrar.
- Droga. –
murmurou, perdendo a batalha contra as lágrimas, que escorriam quentes pelo seu
rosto, contrastando com o frio que fazia. No fundo, sabia que ele não viria,
sabia que estava, mais uma vez, esperando por algo que não aconteceria, mas não
queria perder as esperanças. Não queria aceitar que estava sozinha, ainda não.
Mas ela sabia, no fundo, que estava. Alex dizia constantemente que a amava, que
ficariam juntos para sempre, e que ela poderia contar com ele para o que
precisasse, mas não era assim. Não foi assim. Não estava ali por ele, tentou se
convencer. Estava por si mesma, queria respostas, queria um final para poder
seguir em frente.
- I need someone to tear me down.
– sussurrou, pensando em uma de suas músicas favoritas. Precisava mesmo de
alguém para destruí-la? A frase fazia tanto sentido que ela deu risada. Quando
o conheceu, estava em pedaços, passara por tantas coisas, tantos problemas, que
mal tinha forças para se levantar da cama pela manhã. Alguns sorrisos, alguns
abraços, algum interesse da parte dele, e ela estava apaixonada. Estava? Sentia
que sim. Nunca se apaixonara antes, então não tinha com o que comparar, mas
sentiu tudo aquilo que os livros descreviam. Coração batendo forte no peito.
Borboletas no estômago. Ansiedade para vê-lo. Alegria imensa em estar com ele.
Foi uma novidade, e Bruna sentiu-se tão querida por ser o foco de sua atenção
que nem mesmo percebeu o que acontecia. Parecia não conseguir respirar longe
dele, esperava muito, queria muito. Recebia pouco. Talvez Alex nem percebesse,
insistia consigo mesma. Talvez ele não soubesse o quanto ela precisava dele, de
seus abraços, do seu amor, ou o quanto se esforçava para se sentir boa o bastante.
Ela gostava de ser amada, mas não se sentia boa o suficiente, e agora, refletiu,
sabia o quanto isso era errado.
Irritada,
levantou-se de repente, certa de que ele não viria. O parque estava quase
deserto, com exceção de alguns corredores passeando com seus cachorros, mas
logo seriam todos expulsos pela chuva que estava chegando; o céu escurecia cada
vez mais, trazendo consigo um vento forte e gelado. Bruna passou as mãos
raivosamente pelas bochechas, cansada de chorar. Assustou-se ao perceber que
sentia muita raiva. Raiva de Alex por sempre tratá-la mal, por deixá-la pensar,
por meses, que não era o suficiente. Raiva de si mesma por ter se colocado
nessa situação, por não ter percebido que merecia mais. Que era mais. Sentindo
seu celular vibrando no bolso da blusa, respirou fundo e tentou mandar a
ansiedade embora. Não se surpreendeu com o que leu: ele não viria.
Deixando
escapar uma risada, desligou o aparelho, furiosa. Mesmo após tanto tempo, ainda
esperava muito e recebia pouco; sempre fora assim com ele. Tinha expectativas
altas ainda que tentasse não tê-las, e sempre acabava se decepcionando. Chutou
uma pedrinha da calçada, tentando organizar seus pensamentos, tentando dizer a
si mesma que não precisava disso. Não precisava de Alex. Nunca precisou? Talvez,
no início, quando sentia que o mundo estava mais colorido e os pássaros
cantavam para ela, sim. Mas não quando se sentia afundar na tristeza e nas
mentiras, sentindo que ele não se importava com ela. Por que não falou antes? era o que queria saber; era o que
perguntaria à Alex, se ele tivesse aparecido. Por que não falou antes que seu amor por mim era mentira? Por que não
ficou quando precisei de você? Por que não ficou mais um pouco?
Caminhando
para casa, decidiu que superaria. Não sabia como, mas superaria. Seus
sentimentos estavam tão conflitantes que ela não conseguia pensar, muito menos
entender por que estava perto da casa dele, na esquina, olhando para o que
parecia ser Alex abraçando outra pessoa com tanta paixão que a deixou trêmula.
Ele nunca a abraçara assim, com os olhos fechados, enrugados nos cantos,
sorrindo. Ele nunca segurara sua cabeça com tanto carinho enquanto observava
seu rosto, como se estivesse tentando decorar seus traços ou tentando entender
como algo tão bom poderia estar em sua vida. Bruna deixou escapar um soluço
quando os lábios se encontraram, e sentiu algo partindo dentro de si. Poderia
ser seu coração?
Deu meia volta
e caminhou depressa pelo mesmo lugar de onde veio, querendo chegar em casa o
mais rápido possível. Ignorou, desta vez, as lágrimas e cobriu a boca com uma
das mãos, tentando aplacar os soluços que faziam seu corpo todo tremer. Ele
nunca abraçara daquele jeito. Nunca a olhara com tanta paixão. Nunca a beijara
como se fosse tudo o que ele quisesse fazer para sempre. Saber disso doía, e
ela teve medo de que essa dor nunca fosse embora. Será que se acostumaria? Será
que seu coração iria cicatrizando aos poucos, até virar uma coisa toda
costurada e remendada, com medo de ser rasgado de novo? Que pensamento horrível! riu. Ainda caminhava apressada quando um
pensamento a fez parar.
- Será? –
murmurou, olhando para qualquer lugar enquanto refletia.
- Moça, tá
tudo bem? – alguém parou ao seu lado, mas ela mal percebeu. Murmurou um “ahã” e
continuou andando para evitar que o estranho continuasse questionando-a. Sabia
que seus pés a levariam para casa automaticamente, mas parou na calçada ainda
assim; poderia ser atropelada se não prestasse atenção por onde andava. O
pensamento ainda a intrigava, mas tão de repente quanto parou, Bruna recomeçou
a andar. As lágrimas haviam secado, e ela gargalhava sozinha, não se importando
se a taxariam como louca. Sentia-se animada. Não feliz, só animada. Talvez nem
tudo estivesse perdido, afinal.
Quando chegou
em casa, foi atingida por uma avalanche de pelos de cachorro que voaram assim
que acariciou Toddy, mas não se importou com os espirros ou com a coceira no
nariz. Percebeu o que muitas revistas, livros e depoimentos no Instagram sempre
diziam, mas que ela nunca conseguiu realmente colocar em prática: o tempo que
passara com Alex não fora perfeito, mas ela tiraria coisas boas daquilo. Ele
não havia aparecido, mas ela não se deixaria abalar, não mais! Por algum
motivo, (que ela nunca saberia, mas não quebraria a cabeça com isso), Alex
tinha escondido coisas e feito-a acreditar em mentiras e fantasias, para depois
tirar tudo dela, mas ele havia seguido em frente, talvez há muito tempo, bem
antes dela.... E agora estava na hora de ela fazer o mesmo. Não seria fácil ou
rápido, pensou, mas alguma hora conseguiria. Tinha que conseguir. Não queria
ficar presa no “e se?” para sempre, não queria mais ser a garota do “e se?”. E
se não tivesse se apaixonado por ele? E se não tivesse deixado que ele tirasse
sua independência, sua paixão pela vida e a confiança que tinha em si mesma? E
se tivesse terminado com ele antes que ele pudesse partir seu coração e
deixá-la sem nada? E se tivesse se amado mais do que o amava, e dado a si mesma
a chance de crescer sozinha, sem estar presa a outra pessoa? E se não tivesse
ido ao parque naquele dia e esperado Alex por tanto tempo?
- Então eu não
teria isso... – sussurrou, sorrindo.
A dor apareceu
de repente, como se brotasse dentro dela, mas, pela primeira vez, ela não
desejou que Alex estivesse ali para amortecer. Deixou-se sentir, deixou-se
chorar e sofrer pela garota que havia se perdido, pela garota que ela perdera.
Chorou por todas as vezes em que se sentiu menos, por todas as vezes em que não
se amou. Soluçou pelo amor que havia dedicado a ele, quando deveria ter
dedicado a si mesma. Depois, quando não tinha forças para se levantar do sofá,
aconchegada em Toddy, Bruna conseguiu sorrir, surpreendendo a si mesma. Ainda
não estava bem, mas sabia que ficaria. Choraria mais algumas vezes por Alex, e
choraria ainda mais por si mesma, porém, também sorriria. Sorriria por que,
assim como seu nome e seu cabelo, ela tinha fogo, e esse fogo, essa energia,
essa vida, não se apagaria tão fácil.
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