Coral & outros poemas

Olá,
Estive sumido por pouco tempo (bastante tempo, na verdade), mas agora voltei com mais poesia - e alguns tapas na minha cara dados por Sophia de Mello Breyner Andersen.

Título: Coral & outros poemas
Autor: Sophia de Mello Breyner Andersen
Editora: Companhia das Letras (cortesia)
Lançamento : 2018
Páginas: 392
Sinopse:  Com seleção e apresentação de Eucanaã Ferraz, esta antologia reúne poemas lapidares de uma das vozes mais marcantes e comoventes da literatura portuguesa.
O mar é um dos elementos centrais da lírica de Sophia de Mello Breyner Andresen. As “praias lisas”, a “linha imaginária” e as “ondas ordenadas”, em seus poemas, simbolizam a mais profunda beleza, um segredo íntimo, “um milagre criado só para mim”.
Nas cidades, sua poesia é associada à luta: a vida, no “vaivém sem paz das ruas”, é “suja, hostil, inutilmente gasta”. A atuação de Sophia em resistência ao salazarismo se firmou não apenas em sua escrita, com caráter combativo, mas também na Assembleia Constituinte, ao se eleger deputada pelo Partido Socialista, em 1975.
Esta antologia joga luz sobre a dimensão concreta e ao mesmo tempo misteriosa de uma das vozes mais cultuadas da literatura portuguesa. Seja para denunciar o mundo sombrio, seja para tratar de praias radiantes, a poeta — com sintaxe direta e imagens surpreendentes — alerta: “por mais bela que seja cada coisa/ Tem um monstro em si suspenso.”


Resenha

Empilhar palavras não é (simbolicamente) poesia. Os poemas curtos, brancos - sem rimas - e livres da portuguesa Sophia de Mello Breyner vão contra essa (sacrilégio) prática comum nos dias de hoje. Antes 'rara' nas prateleiras brasileiras - devido a edições antigas de seus livros - a autora pode ser conhecida através de uma reunião de poemas escolhidos por Eucanaã Ferraz, também poeta, para a Companhia das Letras - que há muito vem organizando essa coleção de poesia que é graficamente semelhante.

Mãos
Côncavas de ter
Longas de desejo
Frescas de abandono
Consumidas de espanto
Inquietas de tocar e não prender.

A reunião começa com alguns poemas de Poesia (1944) acerca do mar e de simbolismos gregos invocados, em alta voz, em versos derramados. Em Coral (1950) a autora tem uma preocupação que se volta para dentro; suas próprias dores e amores. É em No Tempo Dividido (1954) que Sophia se esbarra com o de fora; os trabalhadores e camponeses da sociedade portuguesa, fazendo alusão a ferramentas marxistas e outros temas sociológicos, a autora discorre sobre o coletivo até os versos de Geografia (1967).

Irei beber a luz e o amanhecer
Irei beber a voz dessa promessa
Que às vezes como um voo me atravessa
E nela cumprirei todo meu ser (de As Fontes)

Com certeza a grande graça de uma reunião poética é perceber a multiplicidade do autor; indo desde anotações minuciosas sobre viagens ao redor mundo a tributos de grandes nomes do mundo lusófono - como Murilo Mendes e Jorge de Lima. Sophia de Mello também alterna para a prosa e ensaios no final da reunião. Artes Poéticas é uma espécie de breve ensaio sobre a poesia e o processo criativo, com uma linguagem poética se constrói altas reflexões sobre um tema longinquamente dissertado pela crítica literária.

É difícil estabelecer um modo de estudar e analisar a obra de Sophia de Mello, a autora parece fugir da voga praticada pelos autores de sua época - bem longe do experimentalismo de Saramago e Lobo Antunes. A simplicidade dos versos e o poder reflexivo são recorrentes durante toda a leitura, acidentalmente prevendo uma tendência na poesia contemporânea lusófona; versos curtos e quebrados. Quando lemos poetas posteriores a Sophia - como Mãe ou José Luís Peixoto - percebemos que a simplicidade linguística e reflexiva da autora teve um grande impacto.

Eu me perdi na sordidez do mundo
Eu me salvei na limpidez da terra (de Eu me perdi)

É preciso destacar o prefácio e a organização minuciosa feita por Eucanaã Ferraz, certamente uma reunião feliz e bem arquitetada. Os poemas estão organizados em ordem cronólogica, também foram incluídos poemas inéditos e dispersos. Espero, fortemente, que a Companhia das Letras venha a disponibilizar inteiramente a obra poética de Sophia de Mello Breyner.

Em sal espuma e concha regressada
À praia inicial da minha vida (de Inicial)

Recomendo Coral & outros poemas para os leitores de Mãe e Florbela Espanca. Com uma trajetória poética ampla e múltipla, Coral & outros poemas entrega em versos - com delicada simplicidade - preocupações acerca do amor, do coletivo e da morte.


2 comentários

  1. Oi Heitor, como vai?

    Durante muitos anos de minha adolescência eu amava ler poemas e afins, aos poucos meu gosto por leitura foi modificando, diversificando e acabe abandonando o hábito. Mas não de todo, pois vez ou outra ainda me pego a ler alguns livros que ainda tenho. Ótima resenha.
    Abraço.
    www.docesletras.com.br

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  2. Oi!
    Faz anos que não leio poemas. Gostava muito. Eu vi esse livro sendo bem comentado por aí, e me interessei. Interessante saber que vc tb gostou.
    Abraços.
    Daniela Tiemi
    leiturasecomidinhas.com.br

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Oiê! Muito obrigada por passar por aqui, deixe um recadinho com o link do seu blog e a gente dá uma passadinha lá mais tarde :)

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