Os sete maridos de Evelyn Hugo

 Não vou mentir: essa resenha talvez tenha algum spoiler, mas isso porque não consegui escrevê-la sem falar do ponto mais marcante da história: um romnce LGBT <3  


Título: Os sete maridos de Evelyn Hugo
Autora: Taylor Jenkins Reid 
Editora: Paralela (cortesia) 
Páginas: 360
Edição: 1
Lançamento: 2020

Sinopse: Com todo o esplendor que só a Hollywood do século passado pode oferecer, esta é uma narrativa inesquecível sobre os sacrifícios que fazemos por amor, o perigo dos segredos e o preço da fama. Lendária estrela de Hollywood, Evelyn Hugo sempre esteve sob os holofotes ― seja estrelando uma produção vencedora do Oscar, protagonizando algum escândalo ou aparecendo com um novo marido… pela sétima vez.
Agora, prestes a completar oitenta anos e reclusa em seu apartamento no Upper East Side, a famigerada atriz decide contar a própria história ― ou sua “verdadeira história” ―, mas com uma condição: que Monique Grant, jornalista iniciante e até então desconhecida, seja a entrevistadora. Ao embarcar nessa misteriosa empreitada, a jovem repórter começa a se dar conta de que nada é por acaso ― e que suas trajetórias podem estar profunda e irreversivelmente conectadas.

Resenha

Monique é uma jornalista iniciante e desconhecida sem muito de especial, mas por algum motivo, Evelyn Hugo, A Evelyn Hugo, ganhadora de um Oscar, uma das atrizes hollywoodianas mais espetaculares da história, quer ser entrevistada por ela. Evelyn Hugo, que já se casou sete vezes, que fez dezenas de filmes e só conseguiu ser reconhecida e relembrada por poucos deles. Evelyn Hugo, que agora mora em seu apartamento no Upper East Side sozinha com sua empregada, solitária e praticamente esquecida, com todas as pessoas que ela já amou enterradas.... Evelyn quer contar sua história, e só aceita que Monique o faça. Mas por quê?

Monique não ter como dizer não, é claro. Uma entrevista com Evelyn poderia ser o que alavancaria sua carreira num nível que ela jamais imaginou, e mesmo não fazendo ideia do motivo pelo qual Evelyn insiste que seja ela a escrever sua história, Monique decide embarcar na aventura, afinal, todo mundo sempre quis saber tudo sobre Evelyn, sobre seus sete maridos, suas amizades, seus sucessos e fracassos... Mas ninguém jamais conseguiu esse gostinho.

Evelyn demora um pouquinho para começar a falar, e nesse momento percebo que ela acabou de concordar em fazer justamente aquilo que jurou nunca fazer – uma capa para a Vivant – só para não me perder. Evelyn me quer nesse projeto por algum motivo. E quer para valer. E agora estou começando a desconfiar que posso ter uma boa razão para ficar com medo. 

A mãe de Evelyn sempre sonhou que ambas iriam para Hollywood e seriam famosas, e o mais importante: sairiam da cidade onde viviam. Mas Evelyn perdeu a mãe muito cedo e o pai não prestava. Enquanto crescia, ela foi forçada a aceitar um corpo que sua maturidade ainda não entendia, e esse corpo vinha com olhares masculinos que ela não intencionava. Como consequência, Evelyn entendeu, desde aquela época, que se quisesse alguma coisa, poderia usar seu corpo para conseguir. Foi assim que ela se casou pela primeira vez, antes mesmo dos dezoito, com um vizinho que seria sua carona para LA.

Com o passar dos anos, Evelyn foi ficando cada vez mais popular – inclusive se tornou um ícone da sexualidade, desejada por todos -, estrelando filmes e participando de escândalos (a maioria ligada aos casamentos que fracassaram e divórcios conturbados), mas tudo isso estava destinado a levá-la a um lugar: aos braços da pessoa que mais amava no mundo. A maioria dos seus casamentos aconteceram para que ela ganhasse algo, ou às vezes, para que ambas as partes conseguissem algo (posição social, dinheiro, fama, um escândalo que tirasse os olhos da mídia de outro lugar), mas Evelyn Hugo teve um amor durante sua vida toda, e por mais que muita coisa tenha dado errado, por mais que ambas as partes tenham sido duramente magoadas várias vezes, era um amor destinado a acontecer. 

“Amar não é errado, querida. Não é.”, respondi. “As pessoas é que estão erradas.” 

Mais uma vez, decidi ler o livro sem nem mesmo ler a sinopse antes. Descobri que fazer isso torna a experiência ainda mais interessante, porque eu não faço ideia do que vou encontrar. O início da carreira de Evelyn foi difícil; anos 50, com o mundo contra ela, sendo uma mulher descendente de cubanos e com a pele “mais escura”, Evelyn tingiu os cabelos de loiro e os manteve assim até o final, pois sabia que seria mais aceita dessa forma. Parou de falar espanhol porque não queria aceitar suas origens, perdeu seu sotaque e fez o necessário para ter o que queria: fama, mais e mais fama. Evelyn sofreu abusos físicos e psicológicos, usou seu corpo para conquistar e encantar, e durante todo o livro fica claro que ela nunca conseguia alcançar o que queria, estava sempre almejando mais... E depois ela percebe que nada daquilo valia a pena, pois estava sozinha num mundo onde seus entes amados já não mais viviam. 

Você imagina um mundo em que vocês duas possam sair para jantar juntas num sábado à noite sem que ninguém as julgue. Dá até vontade de chorar – desejar tanto uma coisa tão simples, tão pequena. Você trabalhou muito para ter uma vida de esplendor. E agora tudo o que quer é uma liberdade modesta. A paz de poder amar sem reservas.

O que mais incomoda em relação à Evelyn, provavelmente é o fato de que ela era humana. Sendo humana, ela desejava dinheiro, fama e reconhecimento, e não media esforços para ter o que queria. O problema é que nem sempre pensava nas consequências, e as consequências foram o que a mantiveram longe da felicidade por anos e anos; esse foi um dos momentos mais tristes do mundo, quando Evelyn percebe que perdeu tudo para não ter muito em troca. O livro me trouxe muitos sentimentos, desde a raiva (mais pelas circunstâncias da época) até a tristeza, que vinha com a perda de amigos e familiares de Evelyn.

A história é muito interessante, eu ficava cada vez mais curiosa para saber o que tinha acontecido depois – Evelyn conta desde seu primeiro casamento até os seus dias atuais – e como teria sido seu próximo casamento. Ela teve sete maridos e no começo, nos primeiros casamentos, eu até percebi que ela buscava algo, mas depois de alguns divórcios e novos arranjos, tudo ficou bem automático – vamos nos casar para ganharmos isso e isso, e em alguns anos nos separamos, ok? – e achei isso extremamente triste e vazio. No momento em que Evelyn conseguiu um relacionamento inteiro (até certo ponto), eu comecei a ficar ansiosa, porque ela ainda tinha uns quatro casamentos à frente... O que será que aconteceria com o relacionamento de VERDADE, para ela precisar casar mais vezes?

Os sete maridos de Evelyn Hugo foi uma grande surpresa para mim, cheio de emoções, de intrigas, casos sórdidos, escândalos, momentos felizes e luxos da vida glamorosa de Hollywood. Eu estaria mentindo se dissesse que meu coração não se partiu no final, mas acho que não consigo imaginar um final diferente para a história. Me alegra que as últimas linhas tenham me feito dar gritinhos e pensar TOMA MUNDO! Me dói pensar e saber que muitas pessoas ainda não podem amar abertamente porque outras querem ditar e dar pitaco na vida de todo mundo, mas, assim que fechei o livro, senti um pouco de justiça ao pensar que Evelyn pôde amar, mesmo que só um pouco e por pouco tempo, quem ela queria.

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