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15 novembro 2018

O Assassinato do Comendador

Olá a todos,

Hoje trago a resenha de um escritor bem conhecido, Haruki Murakami. Seu mais recente livro, O Assassinato do Comendador, será lançado ainda em Novembro.

Título: O Assassinato do Comendador
Autor: Haruki Murakami
Editora: Companhia das Letras (selo Alfaguara)
Ano: 2018
Páginas: 360
Sinopse: Em um tour de force sobre amor, solidão, guerra e arte, Haruki Murakami demonstra toda sua habilidade em construir mundos paralelos e personagens inesquecíveis. No meio de uma crise conjugal, que o marido nem sabia que estava acontecendo, um casal se separa. O marido abandona Tóquio e passa a viver em seu carro, viajando pelo Japão. Pintor de retratos reconhecido no meio, ele acaba por conseguir uma casa que pertenceu ao famoso Tomohiko Amada. A casa fica nas montanhas, e lá ele pode se dedicar à própria pintura. Nessa casa de paredes vazias, ele começa a ouvir ruídos estranhos e descobre um quadro inédito intitulado O assassinato do comendador. Ao tirá-lo de seu esconderijo, ele entra em um mundo estranho em que a ópera Don Giovanni de Mozart, a encomenda de um retrato, uma adolescente tímida e, claro, um comendador passarão a fazer parte de sua vida. O assassinato do comendador, primeiro romance longo de Murakami após 1Q84, é ao mesmo tempo uma aventura emocionante pelo mundo da pintura e uma busca por aquilo que nos torna únicos.




Resenha:

Haruki Murakami é, provavelmente, o mais notável e atual escritor de língua japonesa . Com seu jeito de escrever e construir cenas, além de personagens aliados à cenários intrigantes, conquistou uma legião de leitores, inclusive a (incrível) escritora estadunidense Patti Smith - provavelmente comecei a ler o autor por causa dela. Em O Assassinato do Comendador, Murakami parte à uma região montanhosa do Japão, onde nosso personagem principal, um retratista, se isolará após o fracasso de seu casamento. O personagem principal - sem nome durante o livro - e aparente narrador é um retratista conhecido por seu dom de trazer a tona características nunca vistas de seus clientes, seu modo de pintar não é enigmático ou 'transcendental', é apenas natural.

Após se separar de sua esposa, que revela que mantinha relações com outro homem, o retratista de Tokyo fica vagando, em seu carro, por montanhas e planícies do Japão, sem rumo algum ou plano na cabeça. Após ficar cerca de 3 meses dirigindo e parando em alguns termas, ele volta para o apartamento de sua ex-esposa e recebe uma oferta de um ex-amigo, da Faculdade de Belas Artes, para se hospedar na casa do pai, o famoso pintor Tomohiko Amada. O personagem aceita e se reclusa em uma casa de difícil acesso e, aparentemente, sem vizinhos.

Em certo sentido, o rosto é como a palma de uma mão: não nasce pronta, ele vai sendo construído aos poucos.

Amada ficou conhecido por pintar no estilo milenar japonês (Nihon-ga), porém, antes de migrar definitivamente para este estilo de pintura, passou pela clássica escola européia em Viena. O motivo da mudança radical, do estilo europeu de pintura para o Nihon-ga, é desconhecido até o narrador, hospedado na casa que pertenceu ao pintor, encontrar um quadro enigmático no sótão, o quadro do Assassinato do Comendador. Misterioso e cheio de detalhes, este quadro perdido no sótão e desconhecido pelo filho do pintor permanece como um quebra-cabeças, já que os detalhes do quadro parecem conversar demais com uma obra de ópera Don Giovanni, de Mozart. Se não bastasse o quadro para a estranheza do personagem, ele subitamente recebe o pedido de um retrato em um valor nunca antes oferecido, ainda mais estranho é descobrir que o cliente é seu vizinho. Quais seriam as ligações remanescentes entre tantos elementos?

Mais que uma conversa sobre o processo artístico, O Assassinato do Comendador é um livro de fôlego que acompanha vários ciclos e personagens, ainda mais enigmático é não ter conhecimento do nome do narrador e personagem principal do livro. A maneira como Murakami arquiteta e desenha seu livro é bem particular, os 'longos' títulos dos capítulos são uma maneira de engatar, automaticamente, o leitor ao que se precede nas linhas. O autor também demora, positivamente, ao descrever e extrair, substancialmente, a alma dos personagens apresentados. A cada página virada, o leitor sente medo do que Murakami pode arquitetar - e isso faz toda a diferença.

Havia nele algo instigante, algo que alcançava os recônditos do coração do observador e convidava a imaginação para locais distantes.

Diferente de outras experiências que tive com o autor, senti que O Assassinato do Comendador se apresenta despretensioso, porém conquista e trava o leitor lentamente. Ao ler, senti que estava em um page turner, mas com a experiência sensorial que apenas o autor entrega.

Traduzido do japonês por Rita Kohl, o lançamento da Companhia das Letras está previsto para 23 de Novembro, porém não duvido muito que até o final do mês os leitores terminem este livro e fiquem, como eu, ansiosos e atentos para mais do autor - uma continuação está prevista.

Recomendo O Assassinato do Comendador para quem já leu Cixin Liu e Philip K. Dick - são autores diferentes, porém podem conquistar o mesmo público. Com um jeito de escrever e moldar personagens bem particular, mas sem muito segredo, Murakami entrega um enredo que parece ultrapassar os limites de seu próprio território.

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