De olho no autor #49: André Cáceres

André Cáceres é autor de Cela 108, livro distópico que se passa em um país fictício chamado Pátria, e que tem como personagem principal Dante, um rebelde que luta contra o regime ditador em que vive.

É o André quem está no De olho no autor de hoje \0/

1. Como foi seu primeiro contato com a leitura? 

A.C.: Além dos livros que a gente lê na escola, como Machado, Guimarães e Alencar, o primeiro contato que eu tive espontaneamente com a leitura foi através dos thrillers de Dan Brown. Fiquei admirado pela maneira de unir ação frenética com temas históricos e um densa simbologia nas suas tramas. 

2. Quando você começou a escrever? 

A.C.: Comecei a escrever em 2010, mas voltado para o jornalismo. A literatura veio um pouco depois. Passei a escrever contos, crônicas e poemas por influência da minha namorada, Bruna Meneguetti, que também é escritora, desde quando ainda éramos apenas amigos.

3. Quem inspirou os personagens? Algum ator, atriz, conhecido...

A.C.: Dante, Arthur, Beatrice e Beatriz foram inspirados pelos personagens Dante, Virgílio e Beatriz, da Divina Comédia, livro do poeta italiano Dante Alighieri. De certa forma, Cela 108 também mostra uma viagem interior do protagonista ao inferno em busca de sua amada, mas essa releitura da Divina Comédia está inserida no contexto político de uma distopia. Na vida real, o poeta foi mesmo apaixonado por uma Beatrice, mas esse romance nunca se concretizou e ela morreu muito jovem. Espero que as pessoas percebam essa referência ao ler! Já Arthur tem esse nome por causa de Arthur Conan Doyle, autor de Sherlock Holmes, pois ele é o personagem mais inteligente da trama de Cela 108. (Fica a dica, leitores! Prestem atenção nele.) Os outros personagens do livro tiveram seus nomes extraídos de artistas, mas não tem tanto significado como esses.

4. Que sentimentos estiveram presentes enquanto você escrevia seus livros?

A.C.: Eu quis transmitir, a todo momento, o sentimento de opressão. Tentei transportar o leitor para esse mundo horrível e kafkiano e fazê-lo sentir na pele a angústia de uma ditadura totalitária. Quero que as pessoas leiam como se fossem um rebelde perseguido pelos becos estreitos da Capital, tanto que essa mesma cena está em um dos primeiros capítulos do livro. 

5. Quanto tempo levou para escrever “Cela 108”?

A.C.: Comecei em janeiro de 2014. A escrita inicial levou apenas seis meses, mas depois fiquei mais um ano reescrevendo e me dedicando à revisão.

6. Quais são as dificuldades para que um autor consiga ter seu livro publicado e conhecido no mercado literário brasileiro? 

A.C.: Ser publicado é relativamente fácil, pois hoje existem muitas editoras que dividem os custos de impressão com o autor. O difícil é divulgar esse livro. Entre reedições e títulos novos, 60 mil livros foram lançados somente em 2014 e são raros os autores brasileiros que de fato aparecem para o público. Nesse sentido, o Brasil ainda precisa de um ecossistema que fomente o surgimento de novos escritores mais por mérito do que por contatos privilegiados, como acontece bastante nos EUA, em que surgiram nos últimos tempos autores como Andy Weir (Perdido em Marte) e Hugh Howey (Silo) publicando de maneira independente e conquistando fãs ao redor do mundo. 

7. Para você, qual a melhor coisa em escrever?

A.C.: Escrever é libertador. Inventar mundos e personagens distantes do nosso nos faz perceber que tudo isso só tem a dizer sobre nós mesmos e nossa realidade. Por mais fantasioso que um universo fictício possa ser, ele estará sempre falando sobre nós. Aliás, a primeira distopia de que se tem notícia foi escrita nos anos 1920 por um russo chamado Yevgeny Zamyatin, e ela se chama “Nós”. 

8. Sei que essa pode ser uma pergunta difícil, mas qual seu livro preferido? Pode ser um dos seus, ou de algum colega escritor...

A.C.: Nossa, que difícil! Nunca pensei sobre isso. Acho que sou jovem demais para ter um livro favorito, ainda preciso ler e conhecer muita coisa. Mas meus autores favoritos são Isaac Asimov, J.R.R. Tolkien, Luis Fernando Veríssimo, Charles Bukowski, Douglas Adams, George Orwell, entre muitos outros.

9. Se fosse um personagem, qual seria? Por quê?

A.C.: Mais uma pergunta difícil! Acho que eu não daria um bom personagem, por que gosto de personagens problemáticos, cheios de conflitos e sem uma distinção clara entre bem e mal. Creio que eu seria o Arthur Dent, do Guia do Mochileiro das Galáxias, porque ele é um cara absolutamente normal. 

10. Além de escrever, você também lê bastante?

A.C.: Leio menos do que eu gostaria por falta de tempo, afinal eu trabalho, faço faculdade e ainda escrevo. No entanto, eu leio bastante e estou me organizando ultimamente e conseguindo ler mais livros. 

11. Qual livro nacional você recomenda? Por quê?

A.C.: O Clube dos Anjos, do Veríssimo, e Capitães da Areia, de Jorge Amado são dois dos meus favoritos. Acho que traduzem muito do Brasil, do nosso povo, e ao mesmo tempo são dois gênios de épocas diferentes. 

12. Poderia nos contar um pouco dos seus livros?

A.C.: Cela 108 é meu primeiro livro e se passa em um país fictício governado por uma ditadura totalitária que se baseia em alguns conceitos utópicos da política, filosofia e até da psicologia para manter o controle da população. O governo proíbe as manifestações, a arte e a cultura e tira as crianças dos pais para doutriná-las e continuar exercendo seu poder através da enigmática figura do Presidente. Nesse contexto distópico, o protagonista Dante faz parte de um grupo de rebeldes que se infiltra nas altas esferas do partido para destruir a ditadura. No entanto, o poder é sedutor e, bem... vocês vão descobrir o que acontece! Fora esse, tenho alguns contos, crônicas e até poesias que estão disponíveis na minha conta da rede social Scribe (que eu divido com a Bruna) para qualquer um ler.

13. Tem algum trabalho futuro chegando? Poderia nos falar um pouco dele ou é segredo?

A.C.: Meu próximo livro já tem cerca de 30 capítulos escritos, um pouco mais da metade da história, mas ainda sem revisão. Ele não será nem um pouco parecido com Cela 108. O nome deve ser Quando os Deuses Sangram e é uma fantasia medieval, outra pegada. Resumindo muito, muito mesmo: se passa num continente criado por deuses que regem os elementos naturais. Cada um desses seres mitológicos é patrono de um povo, e quando uma guerra é travada no plano divino por causa de uma disputa que existe desde o começo do universo, o mesmo se repete com os povos. Um ilusionista e inventor descobre uma arma que pode deter o exército que deu início a essa guerra e a partir daí ele acaba encontrando aliados improváveis em uma jornada para restaurar a paz no continente e entre os deuses. Será apenas um livro, sem sequências, mas infelizmente ainda devo demorar um tempinho para terminar essa história. Espero que tenham ficado curiosos, pois eu estou adorando escrever!

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